Mário Soares diz não a um debate televisivo com Paulo Portas

O debate seria, de acordo com Paulo Portas, citado hoje pelo JN, uma forma de pôr um ponto final a uma troca de acusações que dura há muito tempo. “Tenhamos um debate sereno. É assim que em democracia as coisas se resolvem. Venha daí, doutor Mário Soares”, desafia Portas.
Mário Soares considera este desafio como uma tentativa de Paulo Portas de colmatar “um problema de credibilidade”.

O JornalismoPortoNet foi saber o que pensam os alunos e funcionários do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP). Embora curiosos sobre um eventual debate, os entrevistados são unânimes num ponto: Não haveria discussão séria.
O técnico Ricardo Fortunato admite não ser “espectador assíduo de debates”, mas diz que “a este até achava piada. Depois disto até gostava de os ver. A partir do primerio quarto de hora perdiam a postura os dois”. Será? A aluna Sónia Araújo acredita que Soares tentaria esclarecer questões pertinentes e seria Portas “a voltar-se para a espectacularização”.
Em relação ao comportamento dos dois políticos, outro aluno, Joaquim (que não quis revelar o apelido), diz que Portas tem “laivos de um jornalismo sensacionalista, e a partir daí não se poupa a cuidados para tentar seduzir seja quem for para o combate politico”. O debate, diz, “seria certamente muito aceso. Haveria tudo menos uma discussão séria”. “Nenhum dos dois se está a portar bem”, acrescenta.
Sónia Araújo diz que o líder do CDS-PP “quer fazer de conta que é um Durão quando não é” e concorda com a postura de Mário Soares. “Não deve dar importância nem credibilidade a uma pessoa que utiliza os meios de comunicação – e sabe como utilizá-los, porque já trabalhou num – para o ataque e para chamar a atenção da população”, diz.

A troca de galhardetes não é nova. O eurodeputado e ex-Presidente da República, que em tempos apelidou Portas de “tumor que precisa de ser extirpado” do governo, qualifica-o agora como “um epígono conjuntural”. Soares sugere ao líder do CDS-PP que lance desafios depois de ter obra feita.

A sugestão de um confronto televisivo surgiu na sequência das últimas declarações de Mário Soares, que, segundo o ministro da Defesa, terá afirmado que o CDS queria pôr em causa a Segunda República ao votar contra a Constituição. Portas lembra, em declarações ao JN, que “foi o mesmo doutor Soares que, dois anos depois da votação da Constituição, formou governo com o CDS”.

Soares falou aos jornalistas em Estrasburgo, por ocasião da sessão plenária do Parlamento Europeu. O deputado rejeita o desafio lançado por Portas, pelo menos para já. Soares considera que “debates à antiga” são aqueles em que participou com Álvaro Cunhal ou Freitas de Amaral, “com pessoas desse gabarito”. Não querendo dizer, mas já tendo dito, o socialista aconselhou: “O doutor Paulo Portas que cresça e apareça”.

Ana Isabel Pereira
Foto: NATO