11 de Março de 2004, 7h39 da manhã. Dá-se a primeira de treze explosões que, em poucos minutos, lançam a confusão e a morte em Madrid. Nas estações ferroviárias de Santa Eugénia, El Pozo del Tio Raimundo e Atocha, no sul da capital espanhola, têm lugar os atentados terroristas, responsáveis pela morte de 198 pessoas e pelo ferimento de mais de 1400.

Em quatro comboios foram colocadas mochilas cheias de explosivos que, em plena hora de ponta, ensanguentaram a manhã de milhares de trabalhadores e estudantes, provenientes da periferia. De imediato, chegaram aos diferentes locais os meios de socorro. Montaram-se hospitais de campanha e organizaram-se locais de recolha de sangue. Encaminharam-se os feridos mais graves para os hospitais em ambulâncias, táxis ou carros civis. Madrid saiu à rua para ajudar ou, simplesmente, assistir, incrédulo, ao despertar mais sangrento que a Espanha e a Europa viram, no que a atentados terroristas diz respeito.

ETA: Culpada ou Inocente?

Na primeira declaração ao país, o ministro do Interior espanhol não teve dúvidas: a ETA é a responsável. Por sua vez, Arnaldo Otegui, do Batasuna, braço político na clandestinidade dos nacionalistas bascos, negou-o liminarmente, sublinhando que aquele não é o “modus operandi” da ETA. O primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, dirigiu-se ao país perto das 14h portuguesas para expressar condolências, solidariedade e determinação na procura dos responsáveis. Sem nunca referir directamente os etarras, diz: “Não há negociação possível nem desejável com estes assassinos que tantas vezes semearam a morte em toda a Espanha.” A ETA não reivindicou os atentados.

Na noite do fatídico 11 de Março, surge a carta da Brigada de Abu Hafs al Masri publicada num jornal árabe, com sede em Londres, reclamando a autoria dos actos terroristas. É o preço que Espanha tem de pagar por ser “um dos pilares da Aliança”, dizem. A possibilidade de serem os fundamentalistas islâmicos ganhou também consistência, depois da descoberta de uma furgoneta, nas imediações de Madrid, recheada de detonadores e com um vídeo em árabe.

A dúvida persiste, com uma certeza: entre uma ETA desesperada a este ponto e uma Al Qaeda viva e activa em território europeu, venha o diabo e escolha.

As reacções internacionais

Dentro e fora de Espanha, a palavra mais repetida foi “repúdio” pelos trágicos acontecimentos na capital de Espanha. Javier Solana, presidente da Comissão Europeia foi dos primeiros a reagir, acreditando que o acto visou boicotar as eleições que Domingo terão lugar no seu país. Blair e Chirac declararam a sua consternação. Jorge Sampaio condenou este ataque à “paz e à democracia”.

Uma das mais “calorosas” declarações veio de George W. Bush. A Espanha, nas suas palavras, deve ser elogiada pela corajosa luta que desenvolve contra o terrorismo ou contra o “terror”, expressão que o presidente norte americano normalmente prefere utilizar.

Baixa dos mercados

Ontem, a instabilidade foi a principal característica dos mercados financeiros. Nas principais praças europeias registaram-se as maiores quedas diárias do último ano depois de se conhecer a dimensão do desastre. O pânico nas bolsas foi ainda mais acentuado, principalmente em Nova Iorque, quando se falou do possível envolvimento da Al Qaeda nos atentados.

O Dia Seguinte

O 12 de Março é o dia de luto dos espanhóis. Depois do frenesim de ontem na procura de números, seguem-se as homenagens, as manifestações, os minutos de silêncio. O governo espanhol decretou três dias de luto nacional e foi suspensa a campanha eleitoral. O dia de hoje é também de luto nacional no nosso país por determinação do primeiro-ministro, Durão Barroso. Este pediu um minuto de silêncio aos portugueses às 18h, hora que em Espanha se dará início a uma mega manifestação.

Depois de revelados o nome das vítimas mortais e de o primeiro ministro espanhol ter anunciado que entre os mortos se encontravam cidadãos de onze nacionalidades (de Portugal não se registou nenhuma vítima), espera-se a descida dos espanhóis às ruas. Foi esse aliás o repto lançado ontem por Aznar a todos os espanhóis: que se juntem, pelas vítimas e contra o terrorismo.

Foto: Reuters