“O esquadrão da morte conseguiu penetrar no corações dos Cruzados europeus e infligir um golpe doloroso num dos pilares da aliança cruzada, a Espanha. (…) Nós, as Brigadas de Abu Hafs al-Masri, não sentimos pena pelos chamados ‘civis'”. São excertos da carta , assinada pelo grupo terrorista islâmico que reivindicou a responsabilidade pelo atentado de ontem. Entre os “civis” atingidos contam-se 198 mortos, segundo os últimos dados da Lusa, e 1430 feridos. Pessoas que se dirigiam para os seus empregos, escolas, universidades ou que viajavam de comboio… Caos no coração da capital espanhola. O que é que faz um grupo de pessoas provocar a carnificina em alvos indiscriminados?

José Azevedo, especialista em sociologia, explica o comportamento dos terroristas como resultado de uma soma de factores. São pessoas numa “situação de desespero”, discriminadas e marginalizadas, um caldo ideal para a “lavagem cerebral” e a instrumentalização.

Para José Azevedo, “é inacreditável que num regime democrático se faça isto”. A “lavagem cerebral” aplica-se de igual forma aos “mártires” palestinianos e aos etarras. “É uma guerra, seja a ETA, seja a Al-Qaeda”.

11 de Março e 11 de Setembro

José Azevedo distingue o “11 de Março” do “11 de Setembro”. “No plano simbólico, este atentado [de Madrid] não foi cuidado”. Os objectivos são provocar o “terror” e o “dano total”, “atingir o coração e “mostrar a força”. No 11 de Setembro, “foram atingidos símbolos (Pentágono, WTC)”.

Alguns especialistas em terrorismo internacional, citados pelo El Mundo, comparam, no entanto, os dois atentados. “Este tipo de operação corresponde ao estilo do terrorismo do nosso século (…) Este é o novo ‘modus operandis’ dos militantes islâmicos”, disse ao diário espanhol o analista alemão em assuntos de segurança, Rolf Tophoven. Outros analistas apontam o “efeito World Trade Center” nas estratégias dos grupos terroristas tradicionais. Manuel Coma, especialista em segurança do Instituto Real Elcano de Espanha, diz ao El Mundo que o 11 de Setembro representa um “salto qualitativo nos atentados terroristas” e que, desde essa data, “os ataques pequenos já não são adequados”.

“Uma ameaça real”

A visibilidade mediática e a força dos números são peças chave na estratégia dos grupos terroristas. Os media “amplificam a reacção emocional colectiva”, através de “horas e horas de cobertura”, diz José Azevedo. Resultado: as pessoas “aproximam-se da situação, criam empatia com as vítimas”. E há novos fenómenos: “pessoas que não têm nada a ver com as vítimas ficam deprimidas”.

O atentado, a ter mão da Al-Qaeda, “torna real a ameaça na Europa”, mas, para José Azevedo, “as populações são capazes de se habituar a viver com isso”.

Pedro Rios