Chegar, ver e vencer. Bem que poderia ser a síntese desta história. Nos últimos seis anos, a Agência Espacial Europeia (ESA) tem promovido campanhas onde grupos de alunos universitários europeus se candidatam a realizar experiências em gravidade zero.

Este ano, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto participou pela primeira vez com duas equipas e viu os seus dois projectos aprovados. Entre cerca de 140 propostas oriundas de várias universidades da União Europeia, foram escolhidas apenas 32 equipas, sendo os projectos da FCUP, os únicos portugueses finalistas.

As equipas, “Física-Porto” e “Space Sailors”, vão apresentar no próximo mês de Julho, em França, os seus projectos relacionados com o escoamento de líquidos em condições de gravidade zero, no caso dos “Física-Porto”, e com a detecção de fugas de gases em naves espaciais, no caso dos “Space Sailors”.

O professor da FCUP, Hélder Crespo (ver entrevista), coordenador de uma das equipas vencedoras, a “Física-Porto”, disse a JornalismoPortoNet que esta é “uma situação especial, porque nunca uma universidade portuguesa viu dois projectos seus serem aprovados em simultâneo pela ESA e ainda para mais do mesmo departamento”. Ainda segundo o docente, a base do sucesso está “no grande empenho demonstrado pelos alunos, sempre interessados em alcançar o máximo de qualidade e consistência”.

Os alunos vão fazer parte da campanha de voos parabólicos da ESA que permitem experimentar condições de ausência de gravidade muito semelhantes às vividas num voo espacial. Os voos parabólicos são muito importantes para a preparação de experiências, equipamento e astronautas antes de seguirem num voo espacial. Por isso, as experiências das equipas participantes têm de ter uma planificação muito cuidada.

Hélder Crespo, diz mesmo que “o trabalho de todas equipas participantes tem já de estar numa fase muito adiantada de forma a garantir que nada falhe no momento da apresentação”. Os alunos tiveram, inclusive, de se sujeitar a exames médicos rigorosos.

Uma montanha russa espacial

As experiências vão decorrer a bordo de um Airbus A300 ZERO-G, especializado em fazer voos parabólicos, nos quais o avião é posto numa trajectória sub-orbital que permite criar um ambiente de “queda-livre”, ou de imponderabilidade. Cada manobra tem início com o avião colocado em posição de voo, inclinado cerca de 45 graus ao nível das asas e do “nariz”, depois disso o avião é lançado na mesma trajectória parabólica que uma bola seguiria, fornecendo a todos os que se encontram dentro do avião 20 segundos de gravidade zero destinados à realização de experiências.

No final da parábola, o avião sai lentamente da sua trajectória, retorna ao nível do próximo arco, restaurando peso na cabine. Este tipo de sequência será efectuado 30 vezes, e com tanto sobe e desce, provavelmente haverá gente que não vai aguentar.

A escolha de duas equipas portuguesas, por parte da ESA, vem mostrar que os portugueses estão preparados para corresponder à altura das exigências da aventura espacial. Hélder Crespo refere que “os portugueses têm conhecimento e capacidade de trabalho suficientes” para mostrar a sua competitividade entre os demais parceiros europeus, mostrando que o que é nacional também tem qualidade.

Perante o ambiente de pessimismo que assola o país, lá vão aparecendo algumas coisas que ainda nos fazem alegrar.

Bruno Amorim