Os meios de comunicação social espanhóis sentiram-se usados pelo governo. O executivo de José Maria Aznar insistiu na hipótese dos atentados serem da autoria da ETA. Os media e a população condenam a pressão exercida pelo governo.
Richard Charles Zimler, professor na Universidade do Porto, não tem dúvidas. “Os atentados e a falta de transparência do governo espanhol vieram recordar o eleitorado da guerra do Iraque. 90% dos espanhóis estavam, na altura, contra a guerra”, disse Zimler ao JornalismoPortoNet. O acontecimento trágico de Madrid e o desenrolar das investigações “contribuiram para reabrir essa oposição”, acrescenta.
O professor recorda que sempre houve “um conflito entre o que o governo quer que se saiba e o que a imprensa quer divulgar” mas diz que é “a favor da publicação de 100 por cento das informações”.
Desde quinta feira, que se desenrola a importante – e polémica – discussão sobre o autor ou autores dos atentados de 11 de Março.

O governo insistiu na hipotese ETA junto dos media

Quinta-feira, Aznar terá confirmado ao “El Periodico” a autoria dos atentados como sendo da ETA. Segundo, António Franco, o director daquele jornal espanhol (citado pelo Diário de Notícias), Aznar assegurou: “Não podes ter qualquer dúvida, foi a ETA”. O “El Periodico” saiu com a manchete “O 11-M da ETA”. Antonio Franco disse ao DN estar “convencido de que o presidente do governo do meu país era incapaz, em exercicio do seu cargo, de me dar garantias sobre um assunto sem delas ter a certeza”. Mais tarde, Aznar pediu desculpas ao jornal mas a manchete já estava nas bancas.
Richard Zimler diz que “os ministros espanhóis desde o inicio colocaram a hipotese da Eta como a mais forte”. O autor do romance “Meia Noite ou o Principio do Mundo” recordou a propósito de Madrid, o atentado de Okaholma. “Logo a seguir a esse atentado, toda a gente, incluindo policia, apontava para que tivesse sido um grupo islâmico e acabou por ser um louco neo-fascista norte-americano. Aqui, toda a gente pensava, naturalmente que era a ETA e, afinal, é capaz de ser alguém do mundo islâmico”, explicou o professor ao JornalismoPortoNet.

Censura Interna. Comité da EFE pede demissão do director

Os jornalistas da agência EFE souberam, na manhã dos atentados, da existência de um telemóvel com as configurações em árabe, do resgate de uma carrinha em Alcala de Henares e que um dos mortos era um dos terroristas que perpetraram o atentado. Mas a difusão de informações sobre a eventual ligação dos atentados ao terrorismo radical islâmico foi proibida. Os jornalistas exigem a demissão do director de informação da EFE, Miguel Platón, que terá estado na origem da censura. De acordo com o El Mundo, aos jornalistas também terá sido proibida a difusão de declarações dos líderes da oposição política espanhola. A direcção da cadeia pública espanhola escuda-se no facto de sempre ter difundido informação proveniente de fontes oficiais. Ainda segundo o El Mundo, a EFE acusa os jornalistas de difamação e pediu já o apoio à Associação de Imprensa de Madrid.

Ana Isabel Pereira

Foto: http://www.cdu-csu-ep.de