JornalismoPortoNet (JPN) – Como é que nasceu a possibilidade do Departamento de Física, da FCUP, criar projectos para a Agência Espacial Europeia (ESA)?

Hélder Crespo (HC) – Surgiu através de uma iniciativa da ESA, já com seis anos, que abriu um concurso para projectos de estudantes, no sentido de pôr em prática experiências durante voos parabólicos. Recebi um e-mail da Ciência Viva no sentido de divulgar esta campanha junto dos alunos e predispus-me a ajudar as pessoas nas áreas que tenho mais conhecimento. Assim, surgiram dois grupos, um coordenado por mim e outro pelo meu colega Ariel Guerreiro, duas propostas independentes feitas por dois grupos independentes aqui da faculdade. Um dos trabalhos está relacionado com a detecção de fugas de gás dentro, por exemplo, do ambiente de uma nave espacial, no caso dos “Space Sailors” e o outro trabalho tem a ver com o escoamento de líquidos em condições de gravidade zero, que é o projecto dos “Física-Porto”.

JPN – Não é normal acontecerem dois projectos em simultâneo?

HC – Em situações anteriores, houveram grupos de outras universidades a concorrer e mesmo a ganhar, da Universidade de Aveiro, do Minho, do Técnico, mas nunca com dois grupos do mesmo departamento ou Universidade a serem escolhidos. Aliás, nunca ninguém daqui tinha concorrido, portanto, começamos bem, pois os nossos dois projectos foram aprovados.

JPN – Esta situação criou entusiasmo entre os alunos?

HC – São trabalhos muito práticos, em que as pessoas estão empenhadas em garantir que tudo tem de ir bem feito fazendo uma coisa inédita, de qualidade e dentro daquilo que nós sabemos fazer. Foi um processo demorado, de discussões intensas em que os alunos tiveram uma grande iniciativa sempre a pensar em soluções para as falhas que aparecessem. Foi um trabalho de pesquisa, de forma a garantir algo inédito, consistente e exequível.

JPN – Que preparativos estão a ser feitos?

HC – Estão a decorrer já neste momento e há muitas coisas a fazer em várias vertentes. Por exemplo, já foi feito um protótipo de uma das experiências, ou seja, algo que mostra como é que o diagnóstico vai funcionar no espaço, embora não seja ainda a versão final. As pessoas estão agora preocupadas em mostrar que os efeitos previstos se podem observar e medir.
Dentro de uma semana, um representante de cada grupo vai apresentar aquilo que vão fazer, num workshop da ESA. Vão mostrar como fazer a experiência e quais os resultados que esperam obter. Vai também haver uma visita da ESA para ver se está tudo bem. Portanto, até lá, a experiência tem de estar numa fase adiantada de construção. O nosso trabalho vai ser essencialmente preparar e construir coisas e fazer medidas de forma intensiva.

JPN – Vai existir algum tipo de treino específico para os alunos envolvidos nos projectos?

HC – Mais ou menos. Eles foram obrigados pela ESA a fazer um exame médico igual aos dos pilotos de aviação, e em Portugal, estes exames só se fazem em Lisboa e na Maia. Quanto a treino propriamente dito, eles vão fazer um voo de habituação às condições de gravidade zero.

JPN – Estes projectos reflectem também a afirmação do nosso país na tecnologia espacial?

HC – Pois. Se pensarmos que os nossos alunos concorreram entre 140 propostas e foram escolhidos entre 32, isso mostra que somos competitivos a nível europeu nesta área. A probabilidade de uma pessoa ser astronauta é muito pequena, mas estes alunos são potenciais candidatos a desempenhar funções profissionais na ESA, pois têm conhecimento e capacidade de trabalho suficientes para fazer um projecto competitivo face ao resto da Europa.

Bruno Amorim