Um processo bem administrado, mas com falhas ao nível da igualdade de armas democrática. É assim que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) caracteriza as eleições russas que dão o segundo mandato a Vladimir Putin, com quase 70% dos votos. A corrida eleitoral foi vigiada por mais de 340 observadores de 39 países.

Nas observações finais da missão da OSCE conclui-se que faltaram elementos característicos de um escrutínio democrático genuíno, como um “discurso político vibrante” e “pluralismo com significado”. A OSCE critica ainda a actuação pró-Putin dos media controlados pelo Estado e pressões para o voto em Putin.

Um pluralismo aparente

A OSCE não considera os media russos instrumentos de pluralismo e de debate público. A importância dos media independentes é ainda incipiente, aumentando o poder de influência dos órgãos controlados pelo Estado, em particular dos três canais de televisão públicos. Os observadores acreditam que a situação só vai melhorar quando os media estatais se tornarem independentes.

O tratamento noticioso da campanha eleitoral nas televisões públicas beneficiou claramente Putin. A OSCE conclui que, qualitativamente, a cobertura foi positiva para o presidente reeleito. Para além disso, nas quatro semanas anteriores à eleição, o maior canal de televisão, controlado pelo Estado, deu mais de quatro horas de cobertura noticiosa a Putin. O segundo candidato com mais tempo no mesmo canal ocupou apenas 21 minutos de “primetime”.

Pressões durante a votação

O comunicado da OSCE refere obstruções à campanha de Sergey Glazev, candidato nacionalista. Glazev teve dificuldades em fazer campanha em algumas zonas da Rússia e, em Nizhny Novgorod, a electricidade foi cortada no local em que o candidato ia dar uma conferência de imprensa. Em Yekaterinburg e Novosibirsk, as autoridades locais e os detentores dos media terão boicotado a cobertura mediática da campanha de Glazev.

As críticas da oposição russa quanto às pressões sobre o eleitorado encontram eco em declarações de dirigentes norte-americanos. Colin Powell fala em “inquietações”, enquanto que Condoleezza Rice, conselheira de George W. Bush para assuntos de segurança, mostrou a preocupação de Washington “pelo facto das eleições não terem permitido um verdadeiro debate entre os candidatos”.

“Uma causa para preocupação é a prática do voto não secreto e da falta de reacção das autoridades. Os observadores verificaram que os procedimentos de contagem decorreram com normalidade em vários pontos, mas é preocupante notar que houve problemas significativos num quarto das contagens fiscalizadas”, disse Rudolf Bindig, líder da delegação da Assembleia Parlamentar do Conselho Europeu, citado num comunicado da OSCE.

Pedro Rios