A ETA está disposta a suspender as suas actividades terroristas. Para tal, Zapatero tem que se mostrar disponível para se sentar à mesa. A notícia foi hoje publicada pelo jornal espanhol “La Razón“, habitualmente bem informado no que diz respeito ao grupo separatista basco.

Num comunicado tornado público domingo passado, a ETA diz esperar do novo Governo “mais juízo” e indica o caminho das negociações. Lê-se ainda que Aznar teve a oportunidade de solucionar o conflito e que durante “todos estes anos descurou” o diálogo “como opção” para o entendimento. O antigo Governo só se dispôs a negociar caso a organização basca entregasse todo o seu armamento.

A ETA argumenta que pretende a paz. Para tal, deseja ver reconhecido, por parte do Estado, o direito à auto-determinação do País Basco e o respeito pelo seu território. Pretende também a “aceitação do resultado, seja ele qual for, do debate democrático a ser realizado na Euskal Herria [País Basco] entre os cidadãos bascos, o que provocará um cessar-fogo imediato”.

Zapatero tem agora que lidar com uma situação difícil. Como o PSOE não obteve maioria absoluta nas eleições de domingo, vai depender de outros partidos com representação parlamentar. Entre eles encontram-se o Partido Nacionalista Basco e a Esquerda Republicana da Catalunha. Ambos são favoráveis ao estabelecimento de conversações para se solucionar a questão.

O “La Razón” adianta que fontes próximas da ETA vêem na vitória do PSOE um cenário favorável a uma eventual negociação. O Partido Socialista encabeçou o único Governo que aceitou discutir directamente com a organização basca.

Negociações anteriores

Em 1989, Argel foi palco de um momento histórico no conflito. Rafael Vera, Secretário de Estado para a Segurança, e Juan Manuel Eguiagaray, delegado do Governo em Múrcia, deslocaram-se à capital argelina como representantes governamentais. Do outro lado encontraram alguns dos nomes mais célebres entre os terroristas bascos. Encabeçaram a delegação Eugenio Echeveste, líder do grupo etarra durante alguns dos anos de maior violência, Ignacio Aracama Mendía, que ficou conhecida, entre outros assassinatos, por ter morto o marido, e Belén González Peñalba, que dizia que “quando a ETA quiser negociar será necessário pôr 100 cadáveres em cima da mesa”.

As conversações duraram cerca de quatro meses, a que corresponderam outros tantos de tréguas. Ainda assim, não houve entendimento.

Outras tréguas

Em toda a sua história, a ETA declarou quatro vezes tréguas oficiais. Depois de Argel, foram declaradas tréguas em 1992, com a prisão de Francisco Múgica Garmendia, José Luis Álvarez Santacristina e José María Arregui Erostarbe. Detidos em Bidart, eram os três dirigentes máximos da organização.

Em 1996, Aznar chega ao poder e a ETA pretende negociar com o PP. O novo executivo não aceita a proposta e as tréguas terminam ao fim de uma semana.

No ano seguinte, a ETA pediu o regresso de 460 presos à região basca e decide suspender as suas actividades.

A 18 de Setembro de 1998 a ETA declarou cessar-fogo. Mais de um ano depois, a 28 de Novembro de 1999, José María Aznar informava o Rei Juan Carlos do reinício das actividades terroristas da organização basca.

Germano Oliveira
Foto: A Fondo