Foi um ano agitado. Em 1979, Saddam Hussein chegava ao poder no Iraque, à semelhança de Margaret Thatcher em Inglaterra. A ESPN começava a sua aventura no mundo do desporto e a FIFA comemorava 75 anos de existência.

Em Portugal, e ao som de “Sobe, sobe balão sobe” de Manuela Bravo, os automobilistas só eram punidos quando acusavam 1,5 gramas de álcool por litro de sangue. A República Popular da China estabelecia relações diplomáticas com o Governo português e reconhecia Macau como território chinês sob administração portuguesa. João Paulo II visitava Fátima, enquanto o FC Porto se preparava para conquistar o bicampeonato.

Longe dos holofotes mediáticos e a convite do então Presidente da República Ramalho Eanes, um jornalista desencatado preparava-se para se tornar professor de um liceu lisboeta. Vítor Direito tinha-se cansado da imprensa de ligações partidárias, após ter passado pelos periódicos Diário de Lisboa, República e A Luta. Aliado a este factor, os efeitos da nacionalização dos orgãos de comunicação social em 1975 ainda se faziam sentir. A concepção de um jornalismo independente do poder político parecia uma necessidade. Os problemas do cidadão comum eram muitas vezes esquecidos.

Vítor Direito esboçou uma última tentativa. Recorreu a Mário Soares, secretário-geral do Partido Socialista, e apresentou-lhe um projecto de jornal. Acabaram por se zangar.

As caves

A rua Ruben A. Leitão, em Lisboa, acabou por ser palco de um acaso feliz. Vítor cruzou-se com Nuno Rocha, aquele que seria o primeiro administrador do Correio da Manhã (CM), e visitaram juntos as caves do edifício onde se fazia o Tempo. Decidiram fundar um jornal.

Com um capital de 1350 contos, que passou pouco tempo depois para 10 000 contos, a equipa directiva completou-se com Carlos Barbosa e Eduardo Morais. A redacção era constituída por 30 jornalistas, embora nem todos tivessem máquinas de escrever e secretárias. As caves transformaram-se em sede.

Para além das dificuldades inerentes às instalações precárias, o jornal passou seis meses muitos difíceis. A distribuição era ineficaz e começaram a surgir algumas dificuldades financeiras. A VASP, distribuidora fundada em 1975, acabou por ser o parceiro ideal para a estabilização do CM.

Vítor Direito conferiu ao jornal um cariz popular. Considerava que a política não vendia jornais e, por isso, queria apenas o essencial. Importante era aproximar o CM dos seus leitores, indo de encontro às preocupações da população. As classes média e alta acabaram por acusar o jornal de ser sensacionalista.

Sucesso

Ao fim de dois anos de existência, o CM tornou-se num sucesso editorial e financeiro. Pouca política e o facto de ter sido o primeiro jornal a retomar a edição de Domingo no pós-25 de Abril são tidos como factores de êxito.

A tendência popular intensificou-se com o tempo. O apoio a eventos como o concurso da eleição da , o patrocínio de espectáculos musicais e de diversos concursos são alguns exemplos.

Em Novembro de 2000, a Cofina de Paulo Fernandes anuncia a conclusão da operação de aquisição da Presselivre, detentora do CM. Carlos Barbosa, em declarações ao Público, confessa-se desiludido, e até mesmo zangado, com o rumo que o periódico levou depois de ser vendido. Juntamente com Vítor Direito, sai do jornal em Dezembro de 2000.

No Dia do Pai de 2004, o CM disputa com o Jornal de Notícias o lugar de diário generalista com mais audiência.

Germano Oliveira