O que são exactamente os alimentos transgénicos?

São alimentos produzidos a partir de plantas que foram geneticamente modificadas em laboratório. Nessas plantas, é introduzido um gene. Assim, temos culturas transgénicas diferentes das convencionais, porque as células dessa planta têm essa informação adicional, esse gene.

Desde quando é que são produzidos alimentos transgénicos?

Desde os anos 60, na Europa e nos EUA. Sobretudo nos Estados Unidos. As primeiras licenças de comercialização já são da década passada.

Portugal produz alimentos transgénicos?

Já cultivou, em 1999, milho transgénico. Mas, neste momento, não. Importa, processa, distribui e vende.

Por que é que Portugal já não produz?

Só houve a autorização para um ano. A autorização foi suspensa pelo ministério da Agricultura, porque chegou à conclusão que não tinha condições laboratoriais, técnicas e humanas para fazer o acompanhamento das culturas transgénicas em Portugal. Enquanto essas condições não estivessem criadas, o ministério não podia permitir o cultivo de transgénicos. As nossas chefias governativas decidiram dar aval à suspensão do cultivo. Na minha opinião, isto teve a ver com o protocolo de Cartagena, que é um protocolo internacional de biosegurança e que se realizou numa altura em que Portugal estava na presidência da União Europeia. Por isso, o nosso país queria mostrar boa figura.

Quais são as vantagens dos transgénicos?

Eu vejo poucas vantagens. É errada a ideia de que os transgénicos vão acabar com a fome no Terceiro Mundo. Em relação aos agricultores do Primeiro Mundo, há a sugestão de que os transgénicos permitem uma maior produção e uma agricultura mais limpa de químicos, pesticidas e herbicidas. O agricultor do Primeiro Mundo vê os transgénicos como a possibilidade de uma maior produtividade e, logo, de mais lucro.

Quais são os inconvenientes dos transgénicos?

Quanto tempo tem de gravação de cassete? É que eles são tantos. Tenho a impressão que a cassete não chega. Para o consumidor, a grande desvantagem é que vai estar a comer alimentos que não foram testados. Os transgénicos são alimentos que representam uma caixa preta em termos de impacto na saúde. Não há quaisquer garantias, não há qualquer demonstração, nem sequer artigos científicos que se debrucem sobre esta questão. Portanto, nós vamos estar a comer alimentos que nunca ninguém comeu, que nunca fizeram parte da cadeia humana. As chances são como a roleta russa: pode dar certo ou errado.

Somos cobaias dos alimentos transgénicos?

Sim, sem dúvida. Mas não sou só eu a dizer. Tenho citações de altas personalidades a dizer que a população humana não é mais do que uma grande população laboratorial. Somos cobaias de uma má experiência, que não tem controlo. Nem sequer temos as coisas devidamente preparadas para dizer que pessoas foram expostas a alimentos transgénicos.

Ou seja, não há estudos para saber se alguém morreu por causa da ingestão de transgénicos…

Exactamente. Não há estudos de pré-comercialização, tal como se faz a qualquer medicamento. Mas os medicamentos são utilizados por uma fracção muito pequena da população, normalmente durante uma certa fase da sua vida. Já os transgénicos são utilizados por toda a população, durante toda a vida. Nós não sabemos sequer pegar num alimento transgénico e ver se vai causar alergias. Em termos de pré-comercialização, não há qualquer cuidado. Em termos de pós-comercialização, não há nenhum estudo que esteja a acompanhar a introdução dos transgénicos. Portanto, nós não sabemos se alguém morreu por causa dos transgénicos. Estamos a arriscar a nossa vida a troco de nada.

A rotulagem dos alimentos que têm transgénicos é obrigatória, mas só naqueles que têm mais de 1%. Ou seja, podemos estar a consumir transgénicos sem sabermos, mesmo que em pequenas quantidades…

A rotulagem, neste momento, só nos permite distinguir entre alimentos muito contaminados ou pouco contaminados. Não dá ao consumidor uma verdadeira escolha. Isso é mais uma desvantagem para o consumidor.
A partir do momento em que há transgénicos cultivados, a contaminação generaliza-se através do pólen para outros campos que não cultivam alimentos transgénicos. Ou seja, mesmo os alimentos não transgénicos ficam contaminados. Na prática, não temos opção. Vamos ser obrigados a consumir transgénicos por causa da poluição genética.
O consumidor só tem uma lei de rotulagem que apenas lhe permite excluir os alimentos mais contaminados com transgénicos. E depois há produtos em que a rotulagem não se aplica minimamente. A carne, leite e os ovos de animais alimentados com rações transgénicas não está rotulada. No caso do leite, nós somos consumidores indirectos de transgénicos.
Já houve experiências em que joaninhas comiam insectos que tinham comido transgénicos. As joaninhas morreram simplesmente. Ou seja, não é de por de lado efeitos indirectos para o Homem. Do ponto de vista do consumidor, os transgénicos são a perda de liberdade de escolha, o que é gravíssimo. É um afunilamento da liberdade de escolha, que deve ser o primeiro direito do consumidor.

Já todos comemos transgénicos?

Já todos comemos transgénicos.

Em que tipo de alimentos pode existir transgénicos?

Na Europa, para consumo humano, está aprovado essencialmente o milho e a soja e seus derivados. Cereais da manhã, bolachas, chocolates, pizzas e hamburguers têm normalmente soja ou milho. A soja está em 60 a 70% de todos os alimentos processados. O milho, sob a forma de farinha maizena, sob a forma de amido, também está numa percentagem muito grande. E há muitos transgénicos que não são legais.

Acha que os portugueses estão esclarecidos sobre o tema?

Não, claro que não estão. São dos menos esclarecidos da União Europeia.

Qual é a posição da Quercus sobre o tema dos transgénicos?

A Quercus considera que a biotecnologia vegetal, com libertação no ambiente, não pode acontecer, porque, uma vez cultivado na terra, nós estamos a libertar um transgene no ambiente. A partir daí, se alguma coisa der errado, nós já não conseguimos ir buscar o transgene. Por exemplo, já se encontrou um transgene no intestino de abelhas que pertencia a uma colmeia que estava a muitos quilómetros de distância.
No geral, a posição é: há que continuar a investigação, têm de estar reunidas um conjunto de condições de garantia de que a libertação de transgenes no ambiente não vai contaminar ecossistemas.

Qual é a posição das empresas alimentares em relação aos transgénicos?

Depende das empresas. Por exemplo, o Modelo, o Continente e o Carrefour, entre outros, exigem garantias que os produtos da sua marca não têm transgénicos. Há empresas que assumiram uma política de não uso de transgénicos.

Daniel Vaz

FOTO: JornalismoPortoNet