O presidente da Rede Europeia Anti Pobreza (REAPN), o Padre Agostinho Moreira, em declarações ao JornalismoPortoNet, considera “fundamental” a realização de um estudo sobre a pobreza no nosso país. E justifica com o facto de em Portugal não haver “uma avaliação actualizada dos factos”, o que conduz à implementação de “políticas sobre números que já não correspondem à realidade”.

Para o presidente da rede, a situação da pobreza “está a agravar-se no nosso país”, seja pela “conjuntura actual” ou “pelas políticas seguidas”. A realidade, diz Agostinho Moreira, é que “um em cada cinco portugueses é vítima destas injustiças sociais”. “O acesso à saúde, a falta de habitação condigna, a falta de formação (com 40% de abandono escolar) ou o desemprego” são alguns dos problemas que estão na base do fenómeno da pobreza.

Pobreza económica mas não só

“Quando falamos em pobreza não falamos só de pobreza económica” refere Agostinho Moreira. “A exclusão social, o aumento de desemprego de longa duração, as famílias desestruturadas, o endividamento” são situações que denotam a pobreza.

Desta forma, “estas realidades têm que ser clarificadas para que se possam tomar posições políticas adequadas”. Mas para o presidente da REAPN “as autoridades não têm querido preocupar-se muito com esta realidade”. O facto, diz Agostinho Moreira, “é que ela existe e é preocupante”.

O “empenho” do governo

A análise feita por Agostinho Moreira é que “o país diz respeito a todos os cidadãos”, mas tanto as empresas como o governo têm responsabilidades acrescidas em matérias sociais. Assim, aconselha as autoridades a “pegar nos dados retirados do estudo e equacioná-los por forma a resolver este problema em conjunto com a sociedade civil”. E remata com a inexistência de um diálogo por parte das entidades responsáveis: “Na parte que me toca não conseguimos ter interlocutor e isso só significa que esse problema [da pobreza] não lhes merece suficiente empenho”.

Quanto a medidas concretas de intervenção social, o presidente da rede anti pobreza, considera que “o Rendimento [Social] de Inserção não está a ser aplicado conforme o espírito que lhe deu origem”. “Ele nasceu para ser uma medida de inclusão e está neste momento reduzido, em muitos casos, a uma medida assintencialista, desvirtuada dos seus objectivos iniciais”, esclarece o Padre.

Pobreza desconhecida

Como noticiava o Público de Domingo, o último estudo realizado no país sobre pobreza, data de 1985 e foi na altura dirigido por Alfredo Bruto da Costa. Actualmente, Bruto da Costa é o presidente do Conselho Económico e Social e estima que existam dois milhões de pobres no nosso país. Números aliás coincidentes com os avançados pelo Eurostat (organismo encarregue de retractar em números a Europa dos 15). Desses dois milhões de portugueses, calcula-se que 200 mil estejam numa situação de pobreza profunda e persistente, no que diz respeito a rendimentos.

Alfredo Bruto da Costa, Isabel Baptista, Sofia Guiomar e Pedro Perista, investigadores do Cesis (Centro de Estudos para a Intervenção Social) estão encarregues de realizar este estudo nos próximos três anos. A metedologia do estudo ainda está a ser discutida, não devendo divergir muito da seguida no estudo de 85. A investigação será financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e visa analisar a evolução, os contornos actuais e as causas do fenómeno da pobreza, ao longo dos anos, no nosso país.

Liliana Filipa Silva