Vários autores apontam a morosidade do processo de publicação como um forte factor de desmotivação para quem escreve. Cláudia Abreu, assessora de imprensa da editora Campo das Letras, afirma que o principal motivo para esta lentidão está na acumulação de originais que chegam todos os dias às editoras. “Actualmente, demora cerca de um ano” a dar uma resposta a quem envia obras. E a poesia é precisamente “a área que mais originais recebe.”

Vítor Oliveira Jorge confessa uma certa “desilusão com esta complicação para publicar um livro. Quando era mais novo achava que quando adquirisse um certo estatuto seria tudo muito mais simples, mas não é..”. A mão invisível que governa o mercado editorial português varre, muitas vezes, a paciência dos dados à escrita. Não faltam autores com trabalho guardado, à espera de espreitar a luz do dia, à espera de se deixar espreitar por outros olhos que não os do próprio. Muitos passam por verdadeiras sagas para conseguirem publicar, outros nunca o chegam a fazer e, queiram ou não, têm na gaveta o destino do que escrevem.

Mas há também quem tenha a sorte de nunca ter tido este tipo de azares. É o caso de Pedro Eiras, um exemplo típico do que significa estar no sítio certo à hora certa. Participou numa oficina de escrita, orientada por António Mercado e organizada pelo ‘Dramat’ – um organismo do Teatro Nacional de S. João. A oficina decorreu durante nove meses e resultaram daí dez peças que foram publicadas em dois volumes colectivos. “Das dez, três foram levadas à cena, incluindo a minha – ‘Antes dos Lagartos’. Se não tivesse havido o ‘Dramat’; dentro do ‘Dramat’, se não tivesse havido oficina e se dentro da oficina não tivesse surgido no fim esta oportunidade de editar e de ver o texto encenado, claro que a minha dificuldade de editar teatro seria imensa, até porque edita-se relativamente pouco teatro.” Esta oficina de escrita funcionou, portanto, como “um belíssimo trampolim. Aliás, digo eu e dizem todos os que participaram na experiência. Foi muito, muito forte para todos nós. Estávamos completamente na ribalta horas seguidas. Não comíamos, não almoçávamos, não lanchávamos, não jantávamos. Às vezes ficávamos quatro, cinco, seis horas à volta do mesmo texto. Mas, se eu dei esse passo de mergulhar na oficina, por outro lado, a oficina trouxe-me a possibilidade de editar.”

Ana Luísa Amaral bebeu de sorte parecida. Teve como única dificuldade o facto de ter esperado um ano pela resposta da editora, quando tentou publicar o primeiro livro, “Minha senhora de quê”. Enviou-o para três editoras: a Afrontamento, a Fora do Texto e a Assírio e Alvim. “A Fora do Texto respondeu-me passado quase um ano, a dizer que me publicava e, passado um outro ano, a Afrontamento responde a dizer que estavam interessados também em publicar – e já o livro estava cá fora. Portanto, está a ver… Disso posso gabar-me, nunca pedi nada a ninguém, nunca precisei de falar com ninguém para tentar publicar.”

Catarina Santos