Vítor Oliveira Jorge, arqueólogo e...poeta. Diz que é do mesmo olhar que nasce poesia e ciência. Diferem no modo de responder ao enigma...

Vítor Oliveira Jorge é arqueólogo, professor catedrático de Arqueologia na Faculdade de Letras da UP e … poeta. “Não sei bem se me defino mesmo como poeta… Não é um hobbie, porque isso é impossível. Entranha-se de tal forma que não pode ser só um passatempo. Mas é sempre difícil até assumirmos esta designação, porque pode ser confundido com presunção. Dá-se à palavra poeta um valor excessivo. Na verdade, é uma coisa muito simples. O próprio leitor pode ser um poeta, na medida em que tem de reconstruir todo o processo de composição.”

A visão que tem da poesia aproxima-se em grande medida da sua forma de olhar a arqueologia. Em primeiro lugar, porque “ambas são actividades criativas, que exigem imaginação. Simplesmente a imaginação poética é totalmente diferente da imaginação científica. Do ponto de vista de quem tenta praticar ambas, há uma íntima conexão. Digamos que há qualquer coisa de atracção pelo permanente, pelo geológico, pelo durável, pelo pétreo, que acaba por aparecer na poesia e que é concerteza derivado da minha experiência como arqueólogo.”

Na arqueologia procura-se o que está escondido. Busca-se respostas que ajudem a revelar segredos guardados pelo tempo. Será correcto dizer-se que na poesia também há um exercício de remexer em coisas guardadas, só que ‘cá dentro’? “Eu não sei se haverá um ‘cá dentro’ e um ‘cá fora’. O que há é um enigma, que somos cada um de nós, que é o mundo onde estamos imersos, que é a realidade que vivemos… Isto é, o artista tem uma interrogação relativamente parecida com a do cientista, que é tentar decifrar esse enigma – sabendo que nunca chegará a decifrar, sabendo que é o caminho que tem piada e não propriamente a chegada.”

“Poetas de Letras”

Vítor Oliveira Jorge foi presidente do Conselho Directivo da FLUP de Dezembro de 1994 a Dezembro de 1995. Foi nesse período de tempo e pela sua mão que se encetou a colecção de poesia “Poetas de Letras”, publicada pela FLUP. Editaram-se apenas dois livros – “E Muitos os Caminhos”, de Ana Luísa Amaral e “Estrangeira Terra Litoral”, do próprio arqueólogo – mas ficou o exemplo. “Era muito interessante se nós pudéssemos transportar para a faculdade muitas das coisas para as quais temos aptidão e que às vezes não realizamos lá. A ideia da criação da colecção “Poetas de Letras”, que foi inicialmente uma ideia até minha e que foi perfeitamente aceite pelo Conselho Directivo a que eu presidi, acho que era uma das ideias interessantes. E é pena não haver mais iniciativas deste tipo.”

Catarina Santos