António Mota, escritor nascido em Baião, distrito do Porto, começou no mundo da escrita ao 19 anos. Passados 25 anos, escrever para crianças “continua a ser uma paixão”, afirma. O seu primeiro livro «A Aldeia das Flores» foi publicado em 1979 e, a partir de então, não mais parou.

Segue-se uma carreira de escritor recheada de prémios e reconhecimentos. Em 1983, com «O rapaz de Louredo», ganhou um prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Em 1990, «Pedro Alecrim», talvez o livro mais conhecido do grande público, recebeu o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e, em 1996, recebeu o prémio António Botto. Mais recentemente viu «O Sonho de Mariana» ser premiado com o Prémio Nacional de Ilustração.

Por tudo isto, o JornalismoPortoNet foi ouvir o que António Mota tinha para revelar, neste Dia Mundial do Livro Infantil.

O que é um livro infantil?

O livro infantil pode ser lido por toda a gente incluindo as crianças. Deve ser um livro que faça crescer as crianças divertindo-as. Tem de ser bem escrito, e deve contar uma história com princípio, meio e fim.

Como se escreve?

Imaginando-nos crianças. Todos nós ficámos marcados para o resto da nossa vida pela nossa infância. O livro é o reivindicar da infância perdida. É o apelo à criança que nós fomos.

É uma escrita difícil?

A dificuldade está em escrever com qualidade, porque a tendência é usar todas as palavras, terminando-as em “inho” e às tantas temos uma vaca chamada de vaquinha! Escrever um livro para crianças é barato, dá trabalho e não dá milhões.

Como espera que seja encarado um livro seu?

Gostava que fosse um objecto de prazer e não um objecto recolhido, recortado, estudado ou motivo para teste… O meu objectivo é que seja um objecto de prazer visual.

O que é mais importante: texto ou imagem?

Quando escrevemos para um miúdo com 4 ou 5 anos, é muito importante a textura, o papel, as cores, o desenho, a ilustração. A palavra aqui tem de ter uma posição discreta. Com o avanço da idade, a palavra toma a primazia.

Há diferença se o livro for lido por um adulto a uma criança ou se for lido pela própria criança?

Um livro para os mais pequenos pode ser um momento de prazer e partilha. As crianças precisam muito da voz, gostam de ver os olhos de quem está a ler a história. Tudo isso faz parte da história: a voz, os gestos, os olhos… Toda a gente gosta que lhe conte uma história.

Ainda há espaço para os livros infantis?

Em Portugal, nunca se venderam tantos livros como agora. Ler um livro é o momento de estarmos sós, de termos a nossa própria solidão. O livro é um refúgio e uma forma de evasão. Não é por acaso que o Harry Potter, que é um tijolo enorme, veio dar uma machadada final nas pessoas que dizem que o livro acabou.

A literatura infantil é suficientemente divulgada?

É bastante divulgada. Tem havido um esforço muito grande das escolas em divulgar a literatura para crianças. As bibliotecas é que não estão apetrechadas como deveriam.

Qual a importância de ter um Dia Mundial do Livro Infantil?

É uma forma de chamar a atenção, de nos lembrarmos que existe este tipo de literatura.

Como escreve António Mota, no seu livro «Filhos de Montepó», o importante é que a criança cresça acalentada “pela magia das histórias e dos sonhos que lhe dão ânsias de fugir em busca de outros destinos!!!!!!”.

Vânia Cardoso