Qual o papel dos media portugueses na política? Responder a esta pergunta é quase tão difícil quanto saber se o ovo nasceu primeiro que a galinha, ou vice-versa. Na verdade, se há pessoas que consideram a comunicação social um importante meio de incentivo à participação da sociedade civil na vida política, também há quem pense que os media apenas servem para criticar e realçar defeitos.

Paulo Morais, vice-presidente da Câmara do Porto e ex-administrador de “O Primeiro de Janeiro” e “O Comércio do Porto”, diz que no nosso país tudo “funciona mal” (comunicação social incluída) por culpa “de um sistema corporativista que cria mecanismos de defesa que critica quem tenta mudar”. “Neste pântano em que nos encontramos, se o sistema critica, estamos no caminho certo”, salienta.

O analista político, Carlos Magno, considera que “os políticos perderam poder junto das sociedades enquanto os jornalistas perderam o poder editorial”. Por isso, “o espaço mediático transformou-se num campo de luta pelo poder”. Para o jornalista, o problema seria resolvido se “os jornalistas conseguissem saber o que é uma notícia”.

Para o autarca Paulo Morais, os jornalistas defendem os seus “interesses próprios”, optando por uma lógica de “maledicência crónica onde é mais fácil enfatizar os defeitos do que realçar as virtudes”.

Para Luís Santos, ex-jornalista da BBC com mestrado em Política Internacional e investigador do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, “o jornalismo acaba por ser um exercício diário de total exposição e grande vulnerabilidade”.

Na opinião do investigador, “o jornalismo político português trabalha na confluência de pressões políticas, pessoais e económicas”, acabando por ser uma das profissões mais escrutinadas. Esta situação alimenta a “desconfiança” perante um “determinado grupo de interesses conflituosos para com o interesse público”.

Carlos Magno realça que a “principal vítima da desconfiança é a própria verdade”. O analista não tem dúvidas que esta “é mais uma crise do jornalismo do que da política” e justifica: “o jornalista é uma espécie em vias de extinção que está a ser substituído por produtores de conteúdos e comunicadores indiferenciados”.

Onde está a crise?

Já Isabel Oneto, vereadora socialista da Câmara do Porto, entende que “o jornalismo político não é meramente crítico”, pelo contrário, “ajuda a lançar o debate de temas que de outra forma não teriam visibilidade”. O grande problema é que jornalistas e políticos actuam em “circuito fechado” gerando “uma menor participação da sociedade civil nos assuntos políticos.

Quanto a esta matéria, Luís Santos acredita que “o aumento do nível de exigência da opinião pública e a melhor preparação dos que acedem à profissão de jornalista” vai garantir a sobrevivência do jornalismo político. “Só assim conseguirá resistir às crescentes ofensivas dos que dele procuram tirar dividendos”, afirmou.

A vereadora Isabel Oneto, que também já foi jornalista, assinala que os “condicionalismos dos jornalistas” advêm de um “cruzamento de imagens políticas” que muitas vezes não permitem o “respeito pelas regras deontológicas”.

Por seu lado, Luís Santos considera que Portugal atravessa “um período ímpar” em que o domínio dos principais órgãos de informação está entregue “a pessoas da confiança do Governo”. Contudo, “os últimos 30 anos têm registado uma evolução muito positiva quando falamos em influências sobre os jornalistas”.

No entanto, Carlos Magno não deixa de salientar que “o poder editorial é o único que os jornalistas deveriam ter” e aponta apenas duas hipóteses perante a perda editorial do jornalista: “uma crise de crescimento ou o crescimento da crise”.

Com ou sem crise, o jornalismo político português continua a recolher atenções, num espaço mediático onde jornalistas e políticos se destacam mais pela controvérsia do que pela informação. Caso para dizer, que queridos inimigos.

Bruno Amorim