Para Cristina Macedo, nas colónias, a dureza do regime de Salazar não se fazia sentir com o mesmo rigor como se registava “na metrópole”. Não obstante, recorda-se que a liberdade não era total. Lá “tinham a PIDE–DGS que andava ‘mais em cima das pessoas’”. Ouvia as pessoas falarem baixinho de determinados temas e a olharem para os lados, mas diz que isso não a afectava muito porque “os meus pais não eram politicamente activos”.

Entretanto, foi num ambiente de grande confusão que Cristina viveu o 25 de Abril. Na altura, “sabia que havia problemas com o governo, com a política de Portugal. Sabia que eram províncias ultramarinas, mas não fazia a mínima noção do que é que se estava a passar”. Depois, aos poucos, quando se ouviram as notícias é que foi tendo consciência do que se passava.

A seguir à Revolução, Cristina ainda viveu em Moçambique até finais de 1974. Concluiu o 5º ano do liceu (actual 9º ano) e chegou a frequentar o 1º período do 6º ano, numa altura em que a desorganização se instalara nas escolas das colónias.

Em Janeiro de 75, foi para Portugal continental com a irmã, enquanto os pais permaneceram em Moçambique mais algum tempo. Além das diferenças radicais no clima, Cristina encontrou uma realidade completamente diferente daquela a que estava habituada.

Em termos escolares, foi transferida para o Liceu Carolina Michaelis, no Porto, onde, na sua opinião, quase não tinha havido 25 de Abril: “Notava que havia uma rigidez muito grande. Era só meninas e vinha habituada a outro tipo de coisas”.

Apesar das dificuldades que Cristina teve que enfrentar na adaptação aos costumes da “metrópole”, hoje encara essa fase como uma etapa importante da sua vida que a ajudou a crescer.

Olhando para as três décadas de vida da democracia, o balanço não deixa de ser positivo. Cristina pensa que “foi bom, porque agora há mais realidades diferentes e há uma mentalidade mais aberta. Há uma discussão ‘cara-a-cara’ das coisas e tudo isso é bom”.

Depoimentos dos Professores
Fernando Reis – Um delegado do MFA na Guerra Colonial
Maria José Dias – A revolução vista por uma jovem mãe

Hugo Correia