Em jovem, Carlos Fino participou activamente em lutas estudantis. Esse empenho obrigou-o a sair do país de forma clandestina, acabando por ir para a Rússia trabalhar como locutor da «Rádio Moscovo». Quando recebe a notícia do 25 de Abril, foi grande a vontade de regressar a Portugal. No entanto, circunstâncias várias retiveram-no em Moscovo durante mais alguns meses.

Impedido de regressar, numa altura em que a televisão em directo via satélite ainda era ficção científica, a rádio acabou por ser o único canal de comunicação que lhe permitiu manter-se informado da evolução de todo o processo revolucionário. «Vivi , literalmente, com um rádio ligado ao meu ouvido em permanência. Vivi todos esses episódios através da Rádio», recorda Carlos Fino.

Entretanto, o tempo que viveu em Moscovo até regressar a Portugal acabou por alterar o rumo da sua vida. Durante esse período, Carlos Fino conheceu de perto “a cozinha do comunismo” e confessa que o que viu “foi muito desagradável”. Consequentemente, quando regressou a Portugal, Carlos veio com “a morte na alma”. Se quando foi para a Rússia encarava o comunismo como um “regime inspirador”, ao regressar veio com “essa ideia completamente desfeita” e portanto não se envolveu em nada, “ao contrário do que seria de esperar de um homem que até tinha tido alguma prestação democrática antes do 25 de Abril”.

Dessa forma, Carlos Fino esteve pouco tempo em Portugal. Na altura, tinha a esposa grávida na Rússia e a sua maior preocupação foi tentar regressar na condição de correspondente. “Fui à RDP e um capitão, de um dia para o outro, nomeou-me correspondente em Moscovo ‘à portuguesa’. Não havia formação, eu não tinha curso nenhum, e fui nomeado ‘General’ sem nunca ter feito a tropa!”, recorda Carlos Fino, com um sorriso nos lábios.

Hoje, 30 anos depois, Carlos Fino encara com apreensão os fenómenos de concentração de empresas de comunicação social. Para ele, “se há 10 anos atrás a quebra do monopólio estatal foi uma ‘brecha na muralha’, em termos portugueses, hoje a existência de uma televisão pública isenta e fora desse controlo dos interesses privados é – paradoxalmente – uma garantia de liberdade”.

Actualmente, Carlos Fino é uma figura de destaque do renovado canal da sociedade civil, “A Dois”. Diariamente, às 21h30, em alternância semanal com a jornalista Alberta Marques Fernandes, Carlos Fino apresenta em 30 minutos a síntese da actualidade noticiosa no Jornal 2:.

Hugo Correia