“São critérios muito exigentes”. É essa a opinião de Pedro Madureira, investigador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). “Os que têm mais de cem artigos publicados e que tenham supervisionado mais de dez doutoramentos não voltam para cá. Lá fora é mais fácil. Se está lá fora e se já tem esse trabalho feito é porque é bom cientista e já está bem estabelecido”, considera Pedro Madureira, que está neste momento a investigar a bactéria da meningite.

Ana Confraria, aluna de doutoramento no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), também acredita que “os critérios são muito exigentes”. “Quem quiser trabalhar em Portugal que não deixe de o fazer por uma questão de financiamento. Ao ritmo que a ciência está a evoluir, parece-me essencial haver comunicação entre os cientistas portugueses e os estrangeiros. É preciso irmos lá e é preciso que eles venham cá”, afirma.

Para Mariana Sottomayor, uma das responsáveis pelo departamento Biologia Funcional das Plantas, no IBMC, os critérios apresentados para «captar» investigadores são “algo simplistas”: “os 100 artigos são um número. O número de artigos que se publica depende muito das áreas. Há áreas em que se publica facilmente muitos artigos de qualidade baixa ou muito baixa”, afirma ao JornalismoPortoNet.

Mariana Sottomayor considera que em Portugal devia existir uma melhor “racionalização e optimização de recursos”: “não se pode pulverizar demasiado a investigação que se faz em Portugal. Nós somos pequenos, temos pouca tradição de ciência. Temos que desenvolver os núcleos em que somos bons. O que me parece é que há uma pulverização de financiamento por projectos, sem haver um diagnóstico para saber em que somos bons”, refere.

“A fuga de talentos vê-se nas camadas mais baixas”

Para Pedro Madureira, a medida do Ministério da Ciência e Ensino Superior não vai resolver a saída de investigadores para o exterior: “a fuga dos talentos na ciência não se aplica aos que têm mais de 100 artigos publicados e que tenham supervisionado mais de dez doutoramentos. Esses têm a vida estabelecida. A fuga de talentos vê-se nas camadas mais baixas, os que não têm bolsa, os que têm poucos artigos. Esses sim, precisam de ir lá para fora porque Portugal não dá condições. A ministra devia segurar esses e não chamar os outros. Este governo começa a trabalhar as coisas no topo e não nas bases”, revela.

Mariana Sottomayor admite que será no estrangeiro que os investigadores portugueses irão receber melhor formação: “qualquer aluno que eu tenha que seja muito bom aconselho a fazer doutoramento lá fora. Eles vão receber no estrangeiro muito melhor formação do que vão receber cá. Se quiser continuar a fazer ciência de qualidade vai muito mais facilmente consegui-lo lá fora”, afirma.

Ana Isabel Pereira
Daniel Vaz