Não é comum Hollywood fazer um filme sobre jornalismo. Muitas vezes, aparecem uns que “falam” de jornalismo. Mas não em profundidade. Nos últimos 30 anos, o único digno de nota foi «Os Homens do Presidente», que relatava e dissecava a investigação de Carl Bernstein e Bob Woodward sobre o «Watergate».

E eis que surge um pequeno grande filme sobre o jornalismo, baseado em factos reais – «Shattered Glass», traduzido em português para «Verdade ou Mentira». A ética jornalística é, talvez pela primeira vez, finalmente analisada. Stephen Glass (Hayden Christensen) é jornalista da revista «The New Republic». Apesar de bastante jovem, Glass tem já um percurso de respeito, colaborando, por exemplo, com a «Harper´s» ou com a «Rolling Stone».

Mas a carreira de Glass toma rapidamente um sentido inverso, quando um jornalista de outra publicação descobre que ele inventa factos e pessoas nas suas notícias. A suposta verdade veiculada por Glass está afinal cheia de muitas mentiras.

«Shattered Glass» revela as preocupações dos jornalistas de hoje. Ora de Glass, um jovem jornalista com necessidade de se afirmar, ora de Chuck Lane (Peter Sarsgaard), editor do «The New Republic», que rege a sua profissão unicamente pelos princípios éticos. E é do cruzar entre duas perspectivas, entre a ambição e a ética, não necessariamente opostas, que nasce este filme.

A ambiguidade da personagem de Glass é explorada ao pormenor. Como sobreviver. Como adquirir respeito. A via que escolheu não foi a da ética jornalística. Mas o objectivo que queria atingir – o respeito, o sucesso – foi alcançado. Será que os fins justificam os meios?

«Shattered Glass» encontra a sua simplicidade na realização de Billy Ray. É aliás o primeiro filme que dirige. Ray é argumentista. Talvez por isso filme com o respeito pelos tempos emocionais que uma obra sobre jornalismo exige. E ao descontruir o jornalismo, constrói um dos melhores filmes do ano.

Daniel Vaz

FOTO: site oficial do filme