Trinta anos depois do 25 de Abril, jornalistas falam da experiência face ao peso do «lápis azul». A censura acabou em definitivo?
Trinta anos voaram sobre o 25 de Abril de 1974. Para se perceber o significado desta data, há que ouvir as estórias dos que viveram aqueles tempos. A censura mergulhou o país num medievalismo oculto e sombrio, onde não havia espaço para vozes discordantes do regime. Salazar via os jornalistas como uma ameaça à imagem imaculada que ele queria dar do país. Por isso, dizia que a imprensa era o “alimento espiritual do povo e como qualquer alimento tinha de ser vigiado”. Hoje os tempos são outros e nem nos apercebemos do milagre que é a liberdade de expressão e opinião. Todos os dias nascem novas publicações, revistas, “sites”, “weblogs”, etc,etc. Qualquer um parece poder dizer o quer.
Mas que herança ficou dos censores do Estado Novo? A censura morreu com o regime ditatorial? E em que consistia exactamente? Havia alguma possibilidade de luta? Estas são algumas das infinitas questões que se poderia fazer aos jornalistas daquela época. É isso o que acontece neste site: César Príncipe, Rui Osório, Pinto Garcia, Frederico Martins Mendes, Marques Pinto e Teixeira Neves marcam estas páginas com um testemunho cativante. Com eles, deixamo-nos levar numa viagem ao passado. Vemos os censores, os lápis que utilizavam, ouvimos os seus avisos, conhecemos o perigo de querer dizer a verdade, entramos nas redacções e vemos jornalistas unidos pela esperança do fim da repressão. Depois, regressamos ao presente e vemos as suas opiniões sobre a liberdade de imprensa. Alguns até sentem nostalgia dos tempos da censura.
E o que pensam os jornalistas mais novos? Aqueles que não atenderam “in loco” os telefonemas dos “coronéis” , aqueles que entraram na profissão protegidos por uma lei que consagra a liberdade de imprensa? Alfredo Maia, Rui Pereira, Hélder Bastos e Carlos Fino também preenchem estas páginas com as suas estórias do presente no mundo da comunicação social. Nem sempre as coisas são lineares e a liberdade de imprensa nunca é total e absoluta. Depois de ler os depoimentos destes jornalistas, surgem dúvidas quanto à plenitude dessa liberdade consagrada na Constituição. E, numa sociedade onde há lugar para o debate público e crítico, lançam-se nestas páginas algumas premissas para a discussão.
“Hoje o medo é muito maior nas redacções do que era no tempo do Estado Novo quando os jornalistas se uniam para lutar contra o velho censor. Agora o censor não é velho e é muito difícil enganá-lo! E depois os censores somos todos, todos temos um velho coronel de lápis azul na cabeça…” afirmou com alguma tristeza um dos jornalistas entrevistados. Outro dizia: “-Antigamente, nós sabíamos quem eram os censores, hoje não se sabe. Há uma teia de fontes e relacionamentos que tornam difícil identificar de onde vem o aviso, o toque no ombro…Por outro lado, o jornalista conhecendo a conjuntura do meio empresarial em que trabalha tenderá a ter alguns cuidados em relação àquilo que escreve”..”
No entanto, para outros o cenário não é assim negro. Frases como “ –Hoje não há qualquer tipo de censura. Naturalmente que há questões técnicas que nos obrigam a reduzir textos, mas com o sentido da censura, de adulterar uma ideia ou palavra escrita, não, não há censura!” a par com “A capacidade de liberdade não tem limites, o jornalista pode escrever o que quiser se souber utilizar o seu computador. Não estou a ver um jornalista a encobrir o que quer que seja.” são a outra visão do assunto.
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