Os sindicatos existiam no regime salazarista, mas tinham muito poucas capacidades de reivindicação e de representação dos trabalhadores.

O Governo punha e dispunha dessas instituições, dele dependendo a homologação das direcções sindicais eleitas.

Jorge Pinto, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços do Norte (Cesnorte), realça que “antes do 25 de Abril os sindicatos eram corporativos, nos quais não havia eleições; eram sindicatos completamente enfeudados ao regime e eram controlados pela polícia política”.

Mas, enquanto o sindicato dos comerciantes parecia estar sob a alçada do governo de Salazar, outros sindicatos tinham já alcançado alguma emancipação. Rui Viana, dirigente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, refere alguns exemplos: “com o aproximar do 25 de Abril de 1974, alguns sindicatos começaram a ter direcções eleitas pelos seus próprios trabalhadores, designadamente sindicatos fortes, como o Sindicato dos Metalúrgicos, o Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Lisboa, alguns sindicatos da construção civil e o Sindicato dos Bancários”.

Avelino Gonçalves, dirigente do Sindicato dos Bancários na época que precedeu a Revolução dos Cravos, destaca que “os bancários estavam perfeitamente integrados na actividade sindical e tinham assumido já há largos anos a direcção dos seus sindicatos”. No entanto, o governo de Salazar tentou controlar essa actividade, nomeadamente através do encerramento dos sindicatos, mais tarde reabertos sob a alçada de uma comissão administrativa nomeada pelo Ministério do Interior. “Após isso, os bancários desenvolveram uma luta muito ampla, conseguiram impor a realização de eleições, prepararam listas da classe e venceram essas eleições”. Era ainda frequente a “publicação de comunicados à classe, informando sobre as actividades do sindicato e denunciando situações de violação das normas contratuais”.

Na última fase do regime, a situação foi um pouco diferente. A morte de Salazar, agravando a crise do regime, criou condições favoráveis ao desenvolvimento e êxito das lutas sindicais. No início da década de 70, os trabalhadores, descontentes com a sua situação, multiplicaram as greves e chegaram a pretender a conquista das direcções dos chamados sindicatos nacionais. Realizaram-se ainda as primeiras reuniões intersindicais à margem do sistema corporativo, toleradas por serem públicas.

Os últimos anos da ditadura fascista foram então anos de grandes e importantes lutas dos trabalhadores: contra os despedimentos e a repressão nas empresas, pela conquista de melhores salários, pela redução do horário de trabalho, pela liberdade e contra a ditadura. As manifestações não deixaram assim de existir. Uma das mais marcantes ocorreu em Lisboa: os trabalhadores do Comércio (conhecidos na altura como Caixeiros de Balcão) foram autores e protagonistas de uma das maiores manifestações de massas de carácter sindical contra o regime fascista. Segundo Jorge Pinto, do Cesnorte, “naquele momento e naquela altura, o sindicato dos caixeiros assumiu uma grande luta, que teve grandes repercussões, quer no plano nacional, quer inclusivamente no plano internacional”.

Esta luta inseriu-se no amplo movimento de massas que combatia o regime fascista, contra a exploração e a repressão. Transformou-se então numa luta contra o poder político instalado, contribuindo para a criação das condições que determinaram a derrocada do regime fascista no dia 25 de Abril de 1974.

Ana Sofia Ribeiro