O dirigente da Líbia, Muhamar Kadhafi, chegou ontem a Bruxelas, naquilo que é a primeira deslocação que faz à sede da União Europeia em 15 anos. Esta é também a primeira vez que o líder líbio viaja para fora de África e sem ter como destino o Médio Oriente.
Até há bem pouco tempo, Kadhafi era tido como um dos maiores patrocinadores do terrorismo internacional, sendo responsável por vários atentados no Ocidente. Entre eles conta-se o de Lockerbie, na Escócia, levado a cabo em 1988 e tido como um dos mais graves de sempre no Reino Unido.

O dia de ontem ficou marcado pelo discurso do dirigente líbio. Em cerca de 45 minutos, Kadhafi disse que a Líbia quer ser um “líder para a paz”, e pediu ao Ocidente que não obrigue o país a “recuar ou a olhar para trás”. O líder líbio referia-se ao facto de o Ocidente estar constantemente a lembrar à Líbia os actos terroristas que foram perpretados no passado. “Esperamos não ser obrigados ou forçados um dia a voltar aos tempos em que armadilhávamos os nossos carros ou colocávamos cintos explosivos em redor das nossas camas e das nossas mulheres para não sermos incomodados nos nossos quartos e nas nossas casas, como acontece hoje no Iraque e na Palestina”, disse ontem Kadhafi.

Líbia quer ser “ponte para a paz”

O líder da Líbia disse ontem que deseja que o mundo “se livre das armas de destruição maciça”, e dirigiu por isso uma mensagem aos países que possuem estes arsenais, apelando para que estes “sigam o exemplo” da Líbia e abandonem os programas de armamento nuclear. A este propósito, Kadhafi fez questão de reiterar o seu apoio à eliminação das armas de destruição maciça de todo o mundo.

O dirigente líbio, responsável por vários ataques terroristas no Ocidente ocorridos no passado, afirmou ainda que “a Líbia é uma ponte entre a Europa e África”, mas também “quer ser uma ponte para a paz e para a cooperação”. Kadhafi dá assim mais uma prova de que mudou mesmo a sua estratégia face à comunidade internacional e que pretende uma aproximação à Europa e aos Estados Unidos.

O grande objectivo de Kadhafi

Aderir à Parceria Euromediterrânica, que prevê a cooperação entre a Europa e países do Norte de África e Médio Oriente, é um dos grandes propósitos do líder líbio. No entanto, para que isso seja possível é necessário que a Líbia resolva os seus conflitos com a Alemanha e com a Bulgária. Ambas as divergências têm raízes em atentados que a Líbia levou a cabo contra os dois países, e pelos quais não assumiu ainda quaisquer responsabilidades.

Recepção contou com protestos

Mas, apesar de esta visita ter sido considerada como uma vitória da diplomacia europeia, a agência Reuters referiu que se verificaram algumas manifestações de descontentamento pelo facto de a Comissão Europeia ter recebido com tantas cerimónias um líder que até há bem pouco tempo era acusado de apoiar o terrorismo. De acordo com a Reuters, alguns dos comentários negativos ficaram a dever-se ao facto de o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, ter quebrado as regras dos protocolos ao deslocar-se pessoalmente até ao aeroporto para receber Kadhafi.

Foto: Reuters

Ana Correia Costa