Elísio Guerreiro do Estanque, sociólogo e professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em entrevista ao JornalismoPortoNet, afirma que a maioria dos portugueses não se sente “europeísta”. Para este sociólogo, a população portuguesa encara a Europa como algo muito distante, uma entidade algo nebulosa, que tem pouco a ver com os problemas concretos das pessoas e mais a ver com os “profissionais da política”.
O professor considera que a população portuguesa está ainda pouco desperta para a importância de uma cidadania europeia, “como de resto se tem visto pelo elevado grau de abstencionismo nas eleições para o Parlamento Europeu” e aponta algumas responsabilidades aos próprios partidos.

Quanto à muito discutida “homogeneidade europeia” que muitos acreditam ser uma provável consequência do alargamento, o professor Estanque entende que a participação em instâncias transnacionais não conduz necessariamente a homogeneidade: “o projecto europeu só tem sentido se resguardar a diferença, não só entre países mas também entre povos, culturas e regiões”.
A diversidade e o convívio democrático com essa diversidade podem e devem ser no futuro uma das grandes vantagens da Europa como “espaço de democracia avançada e multicultural”. Só nessa condição é que a Europa pode continuar a ser “um exemplo para o mundo e um exemplo a seguir pelos países em desenvolvimento
noutros continentes”, como a Ásia e a América Latina, sublinha.

A maioria destes dez países aderentes pertenceu ou sofreu influência da ex-União Soviética. Nesse sentido, este alargamento é considerado para esses estados como um passo para o “Ocidente”, que contribuirá para o fortalecimento das suas jovens democracias: “São sem dúvida democracias em construção, como no fundo todas o são”.
O grau de aprofundamento e o nível de institucionalização democráticos exigem a sedimentação de uma cultura política, cuja transparência, separação poderes e mecanismos de gestão dos diversos poderes e dimensões sociais não está
certamente igualmente amadurecida em todos esses países, explica Elísio Guerreiro do Estanque, “mas mesmo os países com mais experiência democrática
contêm imensas insuficiências, de que os EUA são um bom exemplo”.

Este alargamento da União Europeia é uma necessidade que oferece mais segurança ao projecto europeu no médio e longo prazo, “ou melhor, oferece menos insegurança”, diz Elísio do Estanque. “Vivemos em sociedades de risco e o facto de os regimes democráticos poderem alargar o seu âmbito pode ajudar a expandir as políticas sociais, o combate ao risco e à insegurança dos novos países”, acrescenta.

Todavia, a cultura securitária e as sociedades “policiadas” são difíceis de se assumir como solução. “Se a insegurança resulta de causas sociais, só o combate a estas com medidas e politicas cultural e socialmente sustentadas podem na verdade combater a prazo os sentimentos de insegurança. Isto é, a solução está no desenvolvimento”, conclui.

Carla Sousa