Da visita de Kadhafi à Europa ficou uma certeza: a Líbia quer aproximar-se do Ocidente. A estratégia do dirigente líbio em análise no JPN.

No final do ano passado, o líder da Líbia, Muhamar Kadhafi, surpreendeu o Ocidente quando anunciou que iria abandonar o programa de armamento nuclear e as armas de destruição maciça. Em 1999 a Líbia assumiu responsabilidades pelo atentado de Lockerbie e entregou os dois suspeitos pelo ataque, comprometendo-se ainda a indemnizar as famílias das vítimas. Foi o primeiro grande passo do coronel Kadhafi em direcção ao Ocidente.

Alexandra Prado Coelho, do jornal Público, falou ao JornalismoPortoNet (JPN) sobre as vantagens de uma aproximação da Líbia ao Ocidente. “O Ocidente tem toda a vantagem em ter países integrados e que deixem de ser como a Líbia foi durante imenso tempo um Estado pária completamente isolado internacionalmente e que só causava problemas”, diz a jornalista. E acrescenta que “é vantajoso” conseguir que Kadhafi “se integre na comunidade internacional e passe a colaborar ” com o Ocidente.

Aproximação “não foi uma decisão precipitada depois da intervenção no Iraque”

Alexandra Prado Coelho recorda que o regime líbio estava interessado numa aproximação à Europa “há já algum tempo, e dava sinais de que queria acabar com este o isolamento, que tem sido muito duro em termos económicos por causa das sanções a que eles têm estado sujeitos”, e “isso foi lido no Ocidente como uma coisa positiva que se podia aproveitar”. No final do ano passado, a Líbia anunciou que iria desmantelar o programa de armas de destruição maciça, o que “foi uma surpresa”. Mas Alexandra Prado Coelho explicou ao JPN que esse processo tinha sido iniciado antes, e “passou pela entrega dos dois suspeitos líbios que estiveram envolvidos no atentado de Lockerbie e pelo facto de terem aceite pagar as indemnizações às famílias das vítimas do atentado”.

A jornalista do Público lembra ainda que o ministro dos negócios estrangeiros da Líbia afirmou que não foi a intervenção militar no Iraque que levou à mudança de estratégia de Kadhafi quanto ao Ocidente. “Isto é uma decisão que a Líbia já tinha tomado muito antes”, e “há quem diga que já há vários anos que eles tinham começado com esta estratégia”.

No entanto, Alexandra Prado Coelho acrescenta ainda que, “com o problema que há no Iraque neste momento, os americanos e os ingleses estão muito interessados em mostrar que há sinais positivos de outros países” face às medidas tomadas para combater o terrorismo. a jornalista refere que “para os americanos e para os ingleses é vantajoso ligar as duas coisas [a intervenção no Iraque e a nova estratégia da Líbia para o Ocidente] e dizer que “ao tomar uma atitude dura com um país, como fizemos com o Iraque, os outros países começam a portar-se bem”.

Abrandamento das sanções é o “factor principal”

Na opinião de Alexandra Prado Coelho, o levantamento das sanções económicas é o grande objectivo da Líbia nesta aproximação ao Ocidente. A jornalista do Público disse ao JPN que os líbios “vêem outros países a desenvolverem-se, e as possibilidades que há de relações económicas e de desenvolvimento económico e vêem que estão parados há imenso tempo porque estão sujeitos às sanções”.

De acordo com a jornalista, “a prova de que isto [a aproximação de Kadhafi ao Ocidente] foi feito de uma maneira inteligente da parte dos líbios é que o Kadhafi está a ser bem recebido na Europa, e quem sabe se não vamos vê-lo em breve nos Estados Unidos também! No fundo ele está a conquistar uma imagem de líder internacional respeitado que nunca tinha tido”, remata.

Questionada sobre a receptividade da Europa relativamente a esta estratégia de aproximação de Kadhafi, a jornalista do Público deixa a pergunta no ar: “quais são as alternativas?”. De acordo com Alexandra Prado Coelho, “ou se aceita que de facto o Kadhafi mudou e que agora está disposto a colaborar”, ou “a alternativa é uma situação como a do Iraque, que é fazer uma intervenção para derrubar o regime”.