A publicação do último relatório da GW, o já citado «Hora da Transparência», provocou a reacção efusiva de Falcone.

Numa entrevista concedida à Televisão Pública de Angola (TPA) e à Rádio Nacional (RNA), órgãos de comunicação estatais, Falcone insurgiu-se contra o documento da ONG britânica, que diz ser “injusto” e atentar “contra a verdade e a democracia”. “Quem paga esses relatórios?”, foi a pergunta lançada pelo empresário.

As acusações que recaem sobre Falcone no que toca ao alegado tráfico de armas foram fortemente refutadas na entrevista. O empresário francês sublinhou que o governo angolano apenas “comprou armas para se defender”. Garantiu ainda que o processo decorreu “em estrito respeito pela legislação internacional”.

O interesse por Angola surgiu em 1992, depois das eleições realizadas no país. Segundo o empresário, nessa altura ficou “impressionado com a forma como o mundo inteiro” apoiava a UNITA, quando tinha sido o MPLA, o partido legitimado nas eleições. Esta forte impressão levou-o a viajar até Luanda, “para conhecer o país”.

Como resultado da viagem a Angola, Falcone iniciou então uma campanha junto de instituições financeiras internacionais, com o intuito de assegurar a compra de armas e alimentos para as Forças Armadas. Assegurar a “sobrevivência do Estado angolano” era o grande objectivo do empresário. Falcone assegurou ainda na entrevista que parte da sua “fortuna pessoal” foi investida em favor do governo de Eduardo dos Santos, como forma de cobrir a falta de garantias dos primeiros financiamentos.

No que toca à dívida de Angola com a Rússia, o empresário francês afirmou que Moscovo “recebeu cada centavo de cada dólar que tinha que receber”. O acordo estabelecido entre os dois governos foi realizado como forma de, “em benefício mútuo, poderem renegociar uma dívida que estava trancando (…) as economias respectivas dos dois países”, garantiu Falcone.

As acusações de desvios de dinheiro da dívida russa e dos lucros do petróleo em benefício pessoal de membros do governo angolano foram também referidas na entrevista. Segundo a GW, desde 1996, não foram declarados, anualmente, mais de “um bilião de dólares das receitas petrolíferas do país.” Estes dados foram confirmados por auditorias feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), às contas estatais angolanas. Num relatório elaborado em 2002, o FMI aponta que “durante os últimos cinco anos, despesas extra-orçamentais e discrepâncias residuais injustificadas nas contas fiscais representam, em média, 11% e 12% do Produto Interno Bruto anual, respectivamente”.

Face a estes dados, Falcone refutou o desvio do dinheiro. Assegurou que a existência de contas em paraísos fiscais em nome de altos dignitários do estado, servia unicamente de garantia aos “gastos imediatos” do governo durante a guerra.

O empresário negou ainda conhecer a existência de contas bancárias em nome de Eduardo dos Santos no Luxemburgo, contrariando indícios publicados no último relatório da GW. “Ele [Eduardo dos Santos] nunca teve conta nos negócios que dirigi em Angola”, garantiu.

Pedro Cardoso (correspondente em Angola)