O Tripeiro foi fundado em 1908. Apareceu como revista cultural e da cidade do Porto e ainda é assim que os actuais responsáveis o definem. Em 96 anos, o que mudou foi o público, fruto também de uma mudança na abordagem dos assuntos da cidade nas páginas da revista.

O período áureo da revista foram as décadas de 50 e 60, sob a direcção de Artur Magalhães Bastos. Augusto Canedo, o actual director d`O Tripeiro, diz que nessa altura o director “conseguiu tornar a revista coloquial, porque tinha pequenos artigos, tinha humor, era cem por cento do Porto e era de fácil leitura”.

Porém, nas décadas que se seguiram aos 15 anos sob a alçada de Magalhães Bastos, O Tripeiro tornou-se uma revista académica feita por professores universitários e os artigos são densos e compridos. No entender de Augusto Canedo, é esta a razão pela qual “a juventude e o quotidiano dos portuenses se afastaram”. O director da revista reconhece que os artigos são muito bons, “mas para consultar numa biblioteca”. A equipa d`O Tripeiro quer agora ter artigos de profundidade, mas também outros de fácil e rápida leitura, para que esta publicação “volte a ser lida na esplanada do café e seja um elemento que chame as pessoas ao centro histórico”.

“Conservar os modelos válidos não é ser retrógado”

Qual é o público que lê hoje O Tripeiro? E porque não o lêem os jovens? A revista está “muito virada para os assinantes e pouco para a venda”, diz Augusto Canedo. A acrescentar a este, está o facto de os jovens não conhecerem a revista. “Os que conhecem têm uma ideia errada: imaginam que é uma revista de velhinhos”, lamenta Canedo.

Actualmente, O Tripeiro é assinado por cerca de mil pessoas. Os leitores da revista têm na sua maioria mais de 55 anos, mas “a pirâmide etária do público d`O Tripeiro é cada vez mais um rectângulo”, diz Augusto Canedo, rectângulo esse cuja base, a juventude, deve ser alargada.

O director, que se diz conservador, explica que “o conservadorismo não é ser retrógado, é gostar de ver conservados os modelos válidos. E O Tripeiro é uma revista cultural, virada para o futuro, que se pretende testemunho dos modelos válidos do antigamente no futuro”. Canedo acrescenta que a melhor maneira de enfrentar o futuro é ter sentido de percurso e O Tripeiro é uma revista virada para o futuro sem atropelar o eixo da historicidade.

A revista cultural com preocupações literárias já viu a sua publicação interrompida cinco vezes desde a sua fundação, por razões financeiras. A última interrupção aconteceu devido à idade do proprietário, António Sardinha, que deixou de conseguir rentabilizar a revista. Em 1981, a Associação Comercial do Porto foi convidada por António Sardinha a pegar na revista. “Hoje a Associação é proprietária, mas não interfere na linha editorial”, garante o director.

“Um repositório do nosso imaginário e memória colectivos, uma passagem de testemunho de geração em geração”, é que assim que o definem os que fazem O Tripeiro.