Portugal é um dos países da União Europeia (UE) que mais sofre com a erosão costeira. De acordo com um relatório encomendado pela Comissão Europeia, Portugal ocupa o quarto lugar dos 18 países da UE com maior erosão no litoral: quase um terço da costa portuguesa está a ser destruído pelo mar.
«Living with Coastal Erosion in Europe: Sediment and Space for Sustainability» é o mais completo estudo elaborado pela União Europeia sobre a erosão provocada pelas actividades do Homem no litoral da Europa.

Um quinto da costa da UE já foi “seriamente afectado”

Esta é uma das conclusões do relatório, que refere ainda que “a costa está a recuar entre 0,5 e dois metros por ano e, em alguns casos dramáticos, 15 metros”. De acordo com a Comissão Europeia, esta ameaça deve-se em grande parte ao “desenvolvimento intensivo e ao uso dos solos” nas zonas costeiras.

Intervenção humana é um dos agentes de erosão

A par das causas naturais, a intervenção do Homem é um dos factores que tem vindo a potenciar a erosão do litoral um pouco por toda a Euopa. A retirada, todos os anos, de cerca de 100 milhões de toneladas de areia que deveriam servir para repor as areias que são levadas pelo mar, é um dos factores que mais contribui para o desgaste da zona costeira. Normalmente, essas areias são retiradas pelo Homem para depois serem utilizadas na construção civil ou em barragens fluviais.

“A erosão costeira tem efeitos dramáticos”

Ambiente e actividades humanas poderão ser as áreas mais prejudicadas com os danos provocados pela erosão das costas.
Bruxelas alerta para as possíveis consequências do aumento deste desgaste. Destruição de casas, estradas e habitats naturais essencais para a vida selvagem são as consequências mais imediatas. Prevêm-se ainda efeitos nas actividades económicas, principalmente no turismo. De acordo com o estudo da Comissão Europeia, em causa poderá estar também a própria segurança das populações que habitam em zonas costeiras, o que actualmente significa cerca de 16% da população da UE. Só nos últimos 50 anos, a população que vive junto ao mar aumentou para mais do dobro na UE. Actualmente vivem 70 milhões de pessoas em localidades do litoral.
Do relatório ressalta ainda o valor ecológico destas áreas: dos 132.300 quilómetros de costa que estão sujeitos ao efeito da erosão, 47.500 englobam zonas de grande valor ecológico, onde é possível encontrar uma grande biodiversidade e ecossistemas importantes. A destruição dessas áreas implica alterações ecológicas que na maioria das vezes são irreversíveis.

Polónia com 55% da costa destruída. Finlândia tem apenas 0,04%

Polónia e Finlândia ocupam, respectivamente, o primeiro e o último lugar no ranking dos países com maior percentagem de costa destruída pela erosão. Contra os 55 por cento da Polónia, a Finlândia apresenta danos causados por erosão em apenas 0,04 por cento da sua costa. No meio estão o Chipre, com 37,8%, a Letónia (32,8%) e Portugal, que com 28,5% ocupa o quarto lugar entre os 18 países da UE com maior erosão no litoral. A vizinha Espanha tem a costa danificada em 11,5%, ocupando o 14º lugar da lista.

Cinco milhões de euros

É quanto custou o estudo, que contou com o patrocínio da União Europeia.
O relatório «Viver com a erosão do litoral na Europa» foi elaborado por peritos gregos entre 2001 e 2002, e vai ser hoje discutido em Bruxelas numa conferência internacional da União Europeia. Os grandes objectivos do estudo centram-se na avaliação dos impactos sociais, económicos e ecológicos provocados pelo aumento da erosão nas costas europeias. O relatório prevê ainda formas para que o problema possa começar a ser sanado pelas autoridades públicas europeias.

Ana Correia Costa