Rui Trindade, docente da Faculdade de Psicologia do Porto, não vê nada de significativo nas medidas aplicadas pelo Ministério da Educação.

“Há expectativas que se criaram e agora não estão a ser cumpridas”. É assim que Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCE), resume a prestação do actual ministro da educação, David Justino, afirmando que não há melhorias em relação “ao legado deixado pelos governos anteriores”.

Rui Trindade não compreende como é possível pensar que se podem resolver os problemas através de decretos-lei. “Um programa de combate à violência e indisciplina nas escolas não pode ser cumprido de um momento para o outro. E a própria exigência do rigor no ensino do Português e da Matemática é algo complexo demais para se resumir a uma orientação”, disse.

O docente da FPCE dá o exemplo dos concursos de professores como prova da maior “ignorância, laxismo e confusão” que este governo trouxe. “Há só um conjunto de promessas, mas que o vento traz e leva rapidamente”, referiu. Segundo Rui Trindade, o governo travou “a reflexão e discussão” sobre a formação de professores e o fechou o apoio a alguns organismos dedicados à investigação. “Sem qualquer explicação e alternativa credível”, apontou.

O professor acredita que a solução passaria pela responsabilização das escolas no trabalho que fazem: “deveriam ter autonomia pedagógica para realizar o seu trabalho e depois serem avaliadas por isso, e os professores também”. Só assim as escolas poderiam “dialogar, discutir e reflectir” qual o contexto em que se encontram.

Rui Trindade não responsabiliza apenas a administração central pelo que vai mal na educação. Também os professores têm a sua quota-parte de responsabilidade no actual estado das coisas. “A maior qualidade de ensino também passa pelo apetrechamento das escolas e pela formação dos professores que ainda é vista como um progresso na carreira e não uma aquisição de respostas no plano profissional”, acusou.

O docente acredita que está na hora de “ser congruente com os novos tempos” e que os professores têm de dar o exemplo ao “exigir para a sua formação aquilo que pretendem dos seus alunos”. Está em causa a forma como se propõem as tarefas às crianças, porque “formar cidadãos numa sociedade democrática não pode ser dissociada do ensinar a ler, escrever e a contar”. E esta tarefa tem de ser feita pela escola, a única que consegue apropriar as crianças de um “património cultural comum”.

Mais atenção aos educadores de infância

Rui Trindade também não entende o menosprezo de que os educadores de infância têm sido alvo. Para o docente, a presença dos educadores na discussão dos problemas é fundamental. “É preciso dar credibilidade social e educativa ao trabalho destes profissionais de educação, pessoas com responsabilidade e formação, que não são entertainers de crianças”, afirmou.

O docente considera essencial a aposta na expansão da rede pública de jardins-de-infância: “são uma ajuda muito importante para os pais que trabalham e não sabem onde colocar os seus filhos”. No entanto, critica que se tenha ampliado o horário de funcionamento destas instituições e não se tenha feito o mesmo para as escolas do 1º ciclo: “será que este é apenas um problema para crianças de 5 anos e não para as crianças de 6 anos?”, questiona.

Rui Trindade é da opinião de que professores e educadores deviam fazer parte de um mesmo agrupamento de forma a discutirem e reflectirem em conjunto os problemas que lhes aparecem pela frente. “Ganhavam todos com isso”, frisou.

Bruno Amorim