No passado dia 1 de Maio, o Daily Mirror publicou um conjunto de quatro fotografias a reportar maus-tratos de prisioneiros iraquianos. As situações retratadas mostram um soldado a urinar para cima de um prisioneiro, uma agressão, um soldado a apontar a arma à cabeça do prisioneiro e uma outra onde surge apenas um prisioneiro. O detido encontra-se encapuçado em todos os casos. As imagens colocaram debaixo de polémica as tropas do regimento de Lancashire da Rainha (RLR), a quem foram atribuídos os abusos.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, lamentou o teor das fotografias e pediu desculpas públicas. Mais tarde, o ministério da Defesa (MD) e o brigadeiro Geoff Sheldon, do RLR, garantiram que as imagens eram falsas. Para suportar a teoria, esclareceram que o camião militar retratado não estava a ser usado no Iraque, tal como uma das armas. Entretanto, foram saindo várias notícias na imprensa, com especialistas a focar várias discrepâncias materiais nas fotografias.

Seguiu-se uma troca de acusações, com o Governo a acusar o Daily Mirror de não colaborar nas investigações. A recusa do jornal em revelar as fontes esteve na base da discussão. O jornal Sun chegou a oferecer cerca de 75 000 euros a quem divulgasse qualquer informação sobre as fotografias.

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Piers Morgan,o editor responsável pela divulgação das imagens, decidiu então emitir um comunicado. Escreveu, quinta-feira passada, 13 de Maio, que esperava que o “governo tomasse as medidas adequadas em relação aos soldados visados, com o mesmo vigor e celeridade que colocou na averiguação da veracidade das fotos.” Acrescentou que disponibilizou o “soldado C”, uma das fontes do jornal nesta matéria, às autoridades britânicas. No mesmo texto, fez saber que o mesmo indivíduo foi ouvido durante seis horas e que providenciou evidências detalhadas dos maus-tratos e respectivos autores.

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O “soldado C”, que Morgan nomeou, deu uma entrevista à ITV, na última sexta-feira. Presumível membro do RLR, disse que os soldados britânicos abusaram de prisioneiros no Iraque, embora não tenha sido prática sistemática. Na mesma noite, a direcção do Daily Mirror apresentou o primeiro pedido de desculpas e demitiu Piers Morgan. O editor não quis apresentar a demissão e foi expulso das instalações do tablóide.

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No sábado, a manchete do Mirror, “Desculpem…Fomos enganados”, vem acompanhada de um texto onde se assume que as imagens não correspondem a maus-tratos de prisioneiros no Iraque. Ainda assim, o jornal reafirma a existência de abusos por parte de soldados britânicos e justifica que as fotografias foram publicadas com boa-fé. Sheldon aceitou as desculpas e insistiu na colaboração do jornal no inquérito para apurar o autor das imagens falsas.

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A bola de neve continuou e quatro soldados acabaram por ser detidos, também no sábado, 15 de Maio. Após terem sido interrogados pela Polícia Militar do Reino Unido sobre alegados abusos de prisioneiros no Iraque, foram libertados sem acusações. Apesar de só haver provas de maus-tratos no lado das forças americanas, o governo de Londres tem lidado com várias acusações. Até ao momento, houve 33 casos investigados contra tropas britânicas, 12 dos quais a decorrer. Dos que já foram analisados, seis traduziram-se em acusações.

Germano Oliveira

Fotos: Daily Mirror