“Levava uma vida insuportável”. Foi esta a razão que levou Maria Giselda Silva, de 53 anos, a submeter-se a uma gastrobandoplastia, já lá vão três anos. “Cheguei a pesar 120 quilos” e “não me sentia bem comigo própria”, conta Maria Giselda. O facto das “dietas normais” não terem funcionado, os elevados níveis de colesterol e o “quase ter deixado de andar” levaram-na, por indicação médica, a submeter-se a esta intervenção.

A colocação de uma banda gástrica foi também a opção escolhida pelo padre Mário Faria, também ele um ex-obeso. O caso do presidente da ADEXO (Associação de Obesos e Ex-Obesos de Portugal) é em tudo idêntico ao de Maria Giselda. Aconselhado pela médica de família, que tinha efectuado uma acção de formação com a equipa que implementou pela primeira vez a gastrobandoplastia no Sto. António, resolveu por fim aos seus 160 quilos de peso e aos “sérios problemas de saúde” que daí resultaram.
“Desde a diabetes até ao problema da locomoção que me afligia muito” passando pela apneia do sono, tudo ajudou a que se tenha decidido pela operação. Quatro anos depois, pesa 73 quilos. Contas feitas, perdeu 87 quilos e hoje preside a associação “que luta pelos direitos dos obesos” em Portugal.

Por tudo isto, aconselha “absolutamente” este tipo de intervenção e está “convencido que para a obesidade mórbida (obesidade de grau III, com IMC acima dos 40) é o caminho único”. Mário Faria sublinha, no entanto, não saber da “cientificidade da sua opinião”. Também Maria Giselda, que agora pesa 70 quilos, aconselha a intervenção a “toda a gente, desde que não se sinta bem consigo própria” e que tenha problemas de saúde decorrentes da obesidade.

A funcionária das finanças garante que foi alertada pelos médicos para os riscos da operação, que “são os riscos normais de qualquer intervenção”. Até agora não teve quaisquer problemas, garante, tem apenas conhecimento “de uma ou duas pessoas a quem teve de ser retirada a banda, mas por rejeição do organismo”. De resto, apelida o problema da obesidade como “um problema complicadíssimo” que conduz à falta de auto-estima e do bem-estar. “Só quem o tem é que sabe dar o devido valor” e, sublinha, “anda-se sempre deprimida e as pessoas olham para nós como se fossemos sacos de batatas mal atados”.

A discriminação social também é um problema enfrentado pelas pessoas com excesso de peso. Conta-nos uma jovem de 22 anos que “principalmente em lojas de roupa e do género disseram-me que não era a pessoa indicada, ou que já tinham outra em vista”. Revoltada? “senti-me triste, mas temos de tentar levar a vida o melhor possível e não desistir à primeira”, afirma.

Alimentação é a principal causa

A jovem de Gondomar considera-se uma “pessoa que não sabe comer”. “Comia sandes, hamburgers, chocolates e batatas fritas todos os dias” tendo chegado aos 125 quilos. Agora, seguindo uma dieta rigorosa, com um medicamento à mistura, já emagreceu cerca de 20 quilos. Com 22 anos de idade acredita que as dietas podem funcionar desde que sejam escrupulosamente cumpridas. “Pedir isto e aquilo e continuar a comer é que não funciona”, diz.

Mário Faria e Maria Giselda também concordam que a má alimentação é a principal causa do problema. “A obesidade não é uma questão de carácter, a sociedade é que nos ensina a comer mal”, diz o presidente da ADEXO. Maria Giselda, por sua parte, afirma que “é difícil controlar os instintos da gula” originando um ciclo vicioso pelo qual “o organismo vai pedindo cada vez mais e vai-se cedendo porque sabe bem, mesmo sabendo que faz muito mal.

Amanhã ambos vão estar no Parque das Nações em Lisboa. Maria Giselda, diz que vai para que “o governo aceite e conclua que isto não é uma operação de estética, como pretendem anunciar, mas sim uma intervenção de extrema necessidade”. Por isso, na sua opinião, os medicamentos que os intervencionados necessitam no pós-operatório devem ser totalmente comparticipados pelo Estado, porque constituem “uma carga muito complexa para quem os tem de tomar”.

A obesidade já é considerada pelo Serviço Nacional de Saúde como uma doença crónica, a gastrobandoplastia já é comparticipada a 100% pelo Estado, e o tratamento já é considerado prioritário (pela inclusão da cirurgia no Programa Especial de Combate às Listas de Espera do ministério da Saúde). No entanto, os doentes obesos e ex-obesos enfrentam algumas dificuldades de que são exemplo as enormes listas de espera e a não comparticipação dos medicamentos do pós-operatório.

Isto acrescido, de algumas medidas que a ADEXO apelida de “discriminatórias”. É o caso da exigência de um seguro obrigatório, por parte das seguradoras, para doentes obesos que decidam pedir um empréstimo, por considerarem a obesidade uma doença grave. Dessa forma “o prémio é agravado em 100 ou 200%”, dizem.

Liliana Filipa Silva
Pedro Rios