Um em cada 4 alunos consumiu recentemente cannabis. Estes são dados do Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência, referente a 2001. Quando comparado este resultado com os resultados de 1995, regista-se a duplicação do consumo desta substância. O inquérito foi aplicado a 40 mil alunos do ensino secundário, com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos.

“A percentagem de alunos que consome drogas aumentou significativamente. A boa notícia é que a percentagem de alunos que já experimentou drogas (28%), 26% já experimentou cannabis, ao longo da vida”, revela uma das autoras do estudo, Fernanda Feijão. Nos 30 dias que antecederam o inquérito, 11% dos estudantes afirma ter consumido cannabis.

Para a autora este número é preocupante. “É preocupante se pensarmos que dentro destes 11%, haverá alguns alunos que têm fragilidades físicas, psicológicas e familiares e que poderão vir a ter problemas com o consumo de cannabis”, afirma Fernanda Feijão.

Quando comparado com a União Europeia e EUA, Portugal apresenta valores inferiores no consumo desta substância. “Apesar do acréscimo de consumo, Portugal continua a apresentar valores inferiores em relação a Espanha e aos EUA, por exemplo”, confirma a autora.

O inquérito foi aplicado nos vários distritos e concelhos de Portugal Continental, Madeira e Açores. As regiões autónomas e a cidade de Faro são as regiões que apresentam o maior consumo de cannabis. Na cidade do Porto 30% dos inquiridos já havia experimentado a substância, “o que é normal porque estamos a falar de meios urbanos”, explica Fernanda Feijão.

Aumenta consumo de bebidas destiladas

O estudo refere ainda as drogas legais. O consumo de bebidas destiladas ultrapassa o consumo de cerveja. Em relação ao estudo de 1995, o consumo de álcool e tranquilizantes está a diminuir e estabilizou em relação ao tabaco. Ainda assim, estes consumos são mais frequentes que o consumo de drogas ilícitas.

Nos últimos 30 dias, 33% dos inquiridos havia consumido tabaco e 45% diz ter bebido álcool. Destes 45%, 35% dos alunos inquiridos ingeriram uma bebida destilada. “Apesar da percentagem de alunos que está a consumir álcool ser menor, é maior a percentagem daqueles que consomem bebidas destiladas, o que deve estar relacionado com a grande percentagem de jovens que frequentam as discotecas e com a popularização do shot”, justifica a autora.

Escola: lugar privilegiado de consumo

A escola é um lugar privilegiado de contacto entre alunos de várias idades e de várias classes sociais. É aqui que se fazem os primeiros grupos de amigos. Estes podem ser um ponto de partida para o primeiro contacto com a droga.

“Uns puxam os outros. Não é por falta de informação, mas é mais naquele acto de querer experimentar e gostam do efeito que produz. E vão influenciados pelo grupo”, afirma Dulce Lima, professora de Ciências da Escola Secundária Infante D. Henrique, no Porto.

Nocas tem 16 anos, frequenta o 7º ano da Escola Secundária Infante D. Henrique e admite que já experimentou drogas. “Já experimentei muitas vezes haxixe. Queria saber como era”. Nocas gostou do que experimentou, mas hoje garante que já não consome porque “ia sempre a dormir para as aulas”. Segundo Nocas, a droga chega às mãos dos estudantes via bairros sociais.

Luís Pedro Morgado tem 18 anos e é colega de Nocas. Luís garante que nunca experimentou droga, mas caso tivesse vontade de experimentar “sabia onde ir ter. Na escola sente-se o cheiro a ganza”, confessa. Para o estudante é “complicado apanhar quem fuma. Só mesmo a polícia à paisana é que os podia apanhar. Não adianta apanhar o pessoal que fuma, interessa apanhar os traficantes”.

Quanto ao papel da escola neste “combate” à droga, a professora Dulce Lima dá a receita. “Os professores devem dialogar com os alunos, mas também é verdade que só o facto de falarmos não previne. É necessário um diálogo aberto e sem tabus”, conclui.

Pedro Rios
Vânia Cardoso