“A legislação existe mas, em termos básicos, não é minimamente observada ou levada em consideração”, afirma António Silva, do Serviço de Apoio ao Estudante Deficiente da Universidade do Porto (SAEDUP). O estabelecimento universitário do Porto não se distingue das restantes instituições públicas (centros de saúde, câmaras municipais e bibliotecas, por exemplo).

Se o pólo de Letras não é dos piores casos a nível de mobilidade, “nas faculdades mais antigas o caso é muito mais complicado”, adverte António Silva. Falta “sensibilidade para a remoção das barreiras arquitectónicas, que está legislada desde 1997 e que obriga os edifícios públicos a uma adaptação às novas regras de acessibilidade”.

Actualmente, 20 universitários recorrem ao SAEDUP, um valor inferior ao número de estudantes com deficiência na Universidade do Porto. “Há pessoas que não recorrem ao serviço, não por falta de informação, mas porque entendem que necessitam”, esclarece António Silva. Ainda assim, lamenta que, “às vezes, há pessoas que não vêem um palmo à frente do nariz e ainda assim não assumem a sua deficiência. É preciso que as pessoas assumam as suas dificuldades”.

“Estão a fazer-se acessos à pressa”

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O SAEDUP ajuda os alunos com todo o tipo de dificuldades mas, depois das de visão, são as deficiências motoras que mais preocupam este serviço. “Uma porta demasiado estreita onde não cabe uma cadeira de rodas, uma coluna no meio do caminho ou um lanço de escadas que é preciso subir podem ser barreiras intransponíveis, enquanto que para um cego não são”, explica António Silva.

Na defesa da eliminação de barreiras arquitectónicas, o membro do SAEDUP critica os arquitectos portugueses, que “constroem em função da estética e não da funcionalidade”. Acrescenta António Silva que “a maior de todas as barreiras é a das mentalidades. Enquanto não conseguirmos alterá-la vamos sempre ter gente a fazer mal”.

Ao JornalismoPortoNet, o elemento do SAEDUP alerta que “estão a fazer-se acessos à pressa” para cumprir a eliminação de barreiras arquitectónicas até ao final deste ano: “às vezes fazem-se rampas com inclinações de tal maneira grandes que ninguém numa cadeira de rodas se atreve a descer ou subi-las”. António Silva conclui que “ninguém faz isto por entender que é útil, importante e necessário, que ajuda à integração de pessoas com deficiência, mas porque é obrigado a fazer”.

Manuel Jorge Bento