Desde que a Provedoria dos Cidadãos com Deficiência foi formada, em 2002, atendeu já mais de 200 casos, dos quais “os mais graves foram resolvidos”. De todas as intervenções, a correcção do Nó de Francos foi a “mais notória”. O cargo de João Cottim desempenha um importante papel na sociedade do Porto: “pretende-se convencer que este problema não é só de um grupo de pessoas, mas sobretudo uma questão de qualidade de vida da pessoa com deficiência, das crianças, dos idosos, dos acidentados temporários e, portanto, diz respeito a toda a gente”.

O provedor afirma que, actualmente, há duas questões preocupantes: as novas obras, para que não constituam obstáculo à mobilidade e acessibilidade de qualquer cidadão, e a intervenção “coerente e não casuística” para eliminar barreiras já existentes. João Cottim afirma que “tudo isto deveria ter começado em 1997 para que, em 2004, estivesse concluído ou quase”.

Assegura o provedor que, “já depois de 1997, continuou a construir-se edifícios públicos com barreiras arquitectónicas”, o que representa “um total desrespeito pela lei”. Severo com o incumprimento das regras nacionais, João Cottim diz não perceber “como é que há pessoas detentoras de cargos políticos violam a lei, o que é um autêntico golpe de Estado porque este é o fundamento da legitimidade do poder em Portugal, ou deveria ser, pelo menos”.

“Falta de civismo”

O desrespeito dos automobilistas, “que estacionam os seus carros em cima dos passeios e nos lugares reservados a cidadãos com deficiência”, e a falta de uma lógica de colocação de equipamentos, que diminui a acessibilidade e mobilidade, são alguns dos obstáculos ainda bem presentes na cidade do Porto.

O próprio provedor, que sofre de paralisia cerebral, é vítima desta “falta de civismo”. No dia de atendimento ao público (terça-feira, a partir das 15 horas), João Cottim chegou com 1h30 de atraso, tempo que passou à procura de um lugar de estacionamento relativamente próximo da Câmara Municipal do Porto.

Apesar de portador de uma deficiência, o provedor convive bem com a sua maleita: “costumo dizer que não sei se me sentiria tão bem se não tivesse uma deficiência”. João Cottim reconhece que nem sempre foi assim e que já viveu momentos difíceis. Actualmente, tem uma filosofia de vida “politicamente incorrecta”: “em primeiro lugar, eu gosto de mim; em segundo lugar, eu gosto de mim; em terceiro lugar, começo a pensar noutras coisas”.

Manuel Jorge Bento