“Ou há uma desconfiança do ministro em relação à presidente ou então é hipócrita porque passa a vida a dizer que ela merece toda a confiança e afinal, pelos vistos, não merece”, refre Jorge Almeida, porta-voz de várias organizações profissionais e sindicais da área da Saúde, relativamente a uma eventual substituição do Conselho de Administração (CA) do Hospital de S. João, no Porto.

A RTP deu como certa a tomada de posse de Fernandes Tato, ex-gestor do BCP, já na próxima segunda-feira. Fonte da administração do Hospital de S. João, desmente ao JornalismoPortoNet (JPN) a eventual substituição da presidente, Isabel Ramos: “não há qualquer conhecimento do CA relativamente a esse assunto. Aliás, não percebo quem é que diz que vai haver substituição”. Relembra a porta-voz que “o ministro já desmentiu essa situação, no passado”, pelo que tudo não passa de “um boato”.

Em declarações ao JPN, o sindicalista Jorge Almeida afirma que está contra uma eventual mudança de liderança: “não vejo que uma gestão com uma vertente mais economicista, tecnocrática e de controlo exclusivo da despesa seja a solução para gerir o que quer que seja, nem nos hospitais SA nem nos SPA, como este”. No seu ponto de vista, a meta do Governo não é a qualidade: “parece que o que está a prevalecer na mente do Ministério não é produzir mais e melhor, é diminuir a produção e conter custos”.

Jorge Almeida adianta ainda que a “cultura diferente na gestão hospitalar” actualmente vivida se deve principalmente à ministra socialista Maria de Belém. “Este ministro não chegou aqui e encontrou o deserto. Corremos é o risco de ele sair e deixar-nos num deserto”, conclui.

Administração nomeada “para viabilizar projectos”

“Se a razão por que vão demitir a presidente é porque ela se opõe a um acordo que é ruinoso para o hospital, e se opõe a uma solução facilista relativamente à passagem do metro, nós tomaremos uma posição séria sobre o assunto”, salienta.

Em causa está a possível passagem de uma linha de metro entre o Instituto Português de Oncologia e o Hospital de S. João, além de um parque de estacionamento, um hotel e um centro comercial já existentes em propriedade do estabelecimento hospitalar. “Esta é a única razão visível”, diz Jorge Almeida.

SJoao1.jpg

O sindicalista refere a necessidade de “sensibilidade para os problemas de um hospital desta dimensão” por parte de um CA e manifesta descontentamento: “não nos parece que um CA de perfil tecnocrático, como é aquele que tem vindo a ser anunciado na imprensa – dirigido por um economista que vem da banca, que não tem qualquer formação e experiência em gestão de unidades hospitalares – tenha o perfil desejável para assumir a responsabilidade tão grande que é gerir esta casa”.

Descrença no CA

Jorge Almeida alerta os utentes para a “situação de instabilidade que está a ser criada dentro do hospital, pelo facto de o actual CA continuar em gestão corrente, apesar de todo o manobrismo”. O sindicalista reconhece que a situação actual “não está a prejudicar o funcionamento do hospital”, mas admite uma possível instabilização.

O Sindicato dos Médicos do Norte não consegue perceber “porque é que há esta descrença ou falta de confiança no CA se o hospital de S. João apresentou resultados de gestão positivos”. Ainda assim, Jorge Almeida apontou ao JPN algumas deficiências: “a urgência é uma área que é possível e é necessário melhorar, e há naturalmente processos novos de gestão que devem ser postos em prática, como a contratualização de serviços”.

Manuel Jorge Bento