Definir o utilizador tipo da Internet não é tarefa fácil. Mas numa coisa todos os estudos parecem estar de acordo com os resultados apresentados no Manual lançado pela ANACOM: trata-se de uma população maioritariamente jovem (entre os 15 e os 34 anos) e com alguma formação avançada. Foi com esse pressuposto que o JPN tentou perceber junto de vários jovens universitários como é que o comércio electrónico é visto hoje em dia no nosso país por alguns dos principais utilizadores da Net. E se nalgumas coisas os jovens marcam a diferença pelo risco que assumem naquilo que fazem, fazer compras on-line surge ainda, para muitos deles, como algo a evitar.

“Nunca comprei nada nem penso comprar”, revela Alexandra Noronha, estudante de Jornalismo, vincando a razão da sua opinião: “ainda não é seguro”. Uma opinião partilhada por Hugo Torres, estudante de Arquitectura que receia “os hackers que estão sempre à espera de atacar e a inventar novas cenas para tramar quem expõe as contas on-line”.

Mas a desconfiança relativamente à segurança que envolve as trocas via Internet não é a única razão que afasta os jovens do comércio electrónico. “Prefiro fazer comprar nas lojas do costume. Gosto do contacto que há com as pessoas, que é coisa que não existe se nos sentarmos numa cadeira para encomendar coisas pela net”, salienta Gabriela, estudante de Arquitectura. Para outros, é a simples falta de conhecimento que impede arriscar uma ida às lojas da Net. “Nunca comprei nada pela net, mas a verdade é que também nunca procurei muito. Mas não digo que dessa água não beberei”, confessa Ana Figueiredo, estudante de Engenharia do Ambiente.

Na verdade, a maior parte dos estudantes com quem o JPN falou, mostrou disponibilidade para, no futuro, vir a fazer compras pela Net. Uma disponibilidade que ainda se esconde detrás de algum receio, resumido nas palavras de Rui Filipe, estudante de Economia: “Num futuro não muito próximo admito comprar, mas só quando for mais comum…”

“É o método mais rápido de ter as coisas que quero com qualidade e ao menor custo”

Mas se muitos jovens ainda manifestam muitas reticências no que toca ao comércio on-line, outros há que já se renderam a uma ida às compras na Net. É esse o caso de Daniel Vaz, estudante de Jornalismo e habitual comprador de dvd’s na Internet. “A maioria dos títulos ainda não foi editada no mercado e são muito mais baratos na Net”, refere Daniel, que costuma fazer compras numa loja espanhola e noutra norte-americana. Duas lojas que acabam por ser diferentes, na medida em que, se no caso espanhol “se paga com contra-reembolso e são extremamente rápidos a entregá-los em casa”, já a loja norte-americana “demora muito mais tempo e exige pagamento por cartão de crédito, solução que faz sempre algum receio”.

Quem não tem dúvidas no uso do comércio electrónico é Tiago Araújo, estudante de Engenharia Informática, que elogia mesmo “a rapidez de pagamento que permite o MB Net”, uma espécie de cartão de crédito temporário, criado a partir do site www.mbnet.pt. Habitual comprador de material informático, Tiago resume as vantagens do comércio electrónico: “É fácil, barato e entregam-me em casa”

Porém, nem só os produtos mais “convencionais” são comprados pelos jovens portugueses na Internet. Rui Pimenta, estudante de Engenharia de Gestão Industrial, pratica danças de salão nas horas vagas, actividade que o conduziu às lojas virtuais: “Já comprei cola e brilhantes para pôr na roupa. “Para além de ser mais fácil, foi o método mais rápido de ter as coisas que queria com qualidade e ao menor custo.”

Três casos que acabam por destoar da maioria de uma juventude que, apesar de tudo, ainda vai preferindo um passeio pelos “shoppings” convencionais a arriscar-se pelo desconhecido que, actualmente, ainda parece marcar a imagem do comércio electrónico em Portugal.

Tiago Reis