Poucas serão hoje em dia as pessoas que, enquanto procedem a esse fantástico ritual humano que é uma ida às compras, nunca trouxeram nada de que se tenham arrependido momentos depois. Isto, se é que alguma vez chegaram a estar convencidas. Uma situação desagradável que só a psicologia poderá explicar, mas para a qual já há uma solução, que assume a forma de duas palavras: Comércio Electrónico.
O objectivo é o mesmo – fazer compras. Contudo, para tal basta sentar-se confortavelmente no sofá de casa, com um computador, uma ligação à Internet e alguma paciência. São esses os elementos neessários para uma viagem pelas milhares de lojas virtuais que a World Wide Web disponibiliza na actualidade, nas quais os produtos mais diversificados estão à distância de um simples clicar do rato. 24 horas por dia e tendo apenas à mão o cartão de crédito.
Um cenário apelativo que, segundo a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), “fez com que 50 mil portugueses optassem, no ano passado, por gastar um total de 195 milhões de euros em compras na Internet”. Mas estes são apenas alguns dos resultados que podem ser encontrados no “Manual – O Comércio electrónico em Portugal”, lançado este ano pela ANACOM com um objectivo inovador: “ traçar o primeiro perfil do comércio electrónico no nosso país”.
E passando em revista as páginas do “Manual”, podemos desde logo descobrir que o comprador tipo é “ jovem”, “com alguma formação” e “com 2 ou mais anos de utilização da Internet”. Já os produtos mais comprados são os livros e revistas, os CDs de música e o software informático. Produtos que podem ser encontrados em qualquer loja convencional mas que os utilizadores justificam com outras vantagens oferecidas pelo comércio electrónico: “a possibilidade de pesquisa prolongada” “a rapidez na entrega e encomenda”, “melhores preços” e a sempre bem-vinda possibilidade de “ver sem comprar”.
Vantagens que ajudam a explicar o rápido crescimento evidenciado pelo comércio electrónico nos últimos anos, quer no número de “compradores digitais”, quer ao nível de um maior investimento e num aumento exponencial das lojas ‘online’. E os números acabam por motivar a pergunta: será que, por tudo isto, se pode esperar que, em pouco tempo, a maioria dos portugueses se rendam aos encantos dos “shoppings digitais””?
Um crescimento lento
Dada a evolução que a Internet tem conhecido, a resposta acaba por ser sempre imprevisível, sendo certo, porém, que o estudo da ANACOM revela que é ainda “muito baixa percentagem de internautas portugueses que fazem compras on-line”, (cerca de 14%). Um fenómeno que, para aquele organismo estatal, radica nos “fracos níveis de maturidade e confiança da maioria dos internautas portugueses”, que se reflectem em “hábitos de compra on-line muito pouco consistentes”. Na verdade, e lembrando que “a Internet é um fenómeno recente”, a ANACOM chama a atenção para o os receios da maioria dos internautas nacionais “ face ao risco que representa a transmissão de dados pessoais na altura da compra a um vendedor “invisível”.
Por outro lado, o hábito de comprar no comércio tradicional apresenta-se também como um “factor inibidor” à realização de compras através da Internet. Neste contexto, acaba por nao estranhar apenas 2% dos não-compradores demonstrem estar “bastante interessados” em vir a fazer compras na Internet. contra uma maioria que revela mesmo desinteresse.
Resultados que, para a ANACOM, “mostram que apesar do crescente número de clientes e da existência cada vez mais lojas e condições (…) ainda há um longo caminho a percorrer” até que estejam “reunidas as condições para uma adopção em massa do comércio electrónico.” Mas se, a curto prazo, não é de esperar uma invasão por parte dos portugueses às lojas virtuais, não quer dizer que isso não venha a acontecer num futuro mais longínquo.
Assim, e traçando algumas espectativas para o futuro, a ANACOM realça que “o mercado da Internet é muito mais do que uma moda passageira”. Por isso mesmo, segundo aquele organismo , “nos próximos 5 anos, a indústria do comércio electrónico continuará a crescer em larga escala em Portugal, (…). Um crescimento apoiado “em soluções mais sofisticadas e na evolução da Internet, que vai acabar por entrar no quotidiano de um número cada vez maior de pessoas”.