Para o professor, o processo de Bolonha é uma reforma que se insere numa política neo-liberal cujo objectivo é semelhante ao das outras reformas neo-conservadoras: diminuir o financiamento público e apostar na auto-regulação do mercado.
A Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Maria Graça Carvalho já anunciou que o Estado vai financiar na totalidade o primeiro grau do ensino superior, mas que os outros ciclos, os mestrados e os doutoramentos, vão ter um financiamento diferenciado. Para manterem os seus serviços educativos, as universidades vão muito provavelmente ter de recorrer ao capital privado. Milan Rados admite que isto possibilita a comercialização do ensino. A busca pelo lucro pode ter como consequência formar alunos e não bons profissionais, explica o especialista em ciência política.

O papel do ensino

O professor afirma que o ensino tem de responder às necessidades do mercado, porque a sociedade é dominada pela economia e para nela sobreviver é preciso um emprego. É necessário formar os profissionais que o mercado precisa, mas também é necessário uma regulação do Estado para que não se verifique, como acontece em algumas privadas, a inscrição de num só curso e num só ano de 500 psicólogos. “Isso deve ser coordenado entre o governo, os ministérios da educação e entre os privados”, porque “a auto-regulação [do mercado] não existe, é necessário que o Estado e poderes públicos tomem algumas iniciativas”, diz Milan Rados.
O perigo do capital privado assenta na única procura de lucro; a pressão dos grandes empregadores é mais forte nas instituições de ensino privado do que nas públicas, afirma o professor. As universidades têm que preparar bons profissionais, ensinar-lhes o certo e o errado da profissão e não ensinar apenas o que “o Belmiro de Azevedo ou o Paes do Amaral pretendem”. O especialista diz que conhece os dois universos universitários e que sabe que a universidade pública tem muitos problemas de organização, mas mesmo assim prefere a pública à privada.

Tatiana Palhares