Apesar da vasta obra que nos deixou, Almeida Garrett é um autor pouco procurado e os seus livros menos conhecidos quase não figuram nas livrarias. Os portugueses conhecem-lhe a fama, mas depois da escola quem o volta a ler?

De acordo com Fátima Marinho, especialista em literatura do século XIX, o alheamento do grande público em relação à herança garrettiana deve-se à morte precoce do autor, mas sobretudo ao facto de Garrett “ter escrito poucos romances, que é por excelência o género que os leitores comuns mais apreciam”.
Além disso, Viagens na Minha Terra, o seu romance mais lido, não é uma obra de leitura fácil, pois contém muitas divagações e considerações sobre o Portugal de então, que afastam o leitor menos culto”, acrescenta.

A mesma opinião partilha Rosa Cruz, professora de Língua Portuguesa há 18 anos. “A necessidade de um background histórico-cultural enraizado, actualizado e contextualizado é a condição sine qua non para a valorização da obra de Garrett”, defende.
Por isso, sublinha a importância de “uma inserção metódica e motivadora do autor na respectiva época”.
Embora admita que “os alunos, a priori, revelam uma certa animosidade e relutância” relativamente ao estudo de Almeida Garrett, Rosa Cruz acredita que, “se os principais aspectos histórico-sociais e os ideais político-culturais do escritor forem desvendados e dissecados, as suas obras adquirem outra dimensão aos olhos dos alunos”.

Além disso, a professora lembra que “a componente lírica da obra de Garrett é bastante mais acessível” e refere até um aspecto curioso. “Há poemas que são por demais conhecidos, sobretudo os de cariz mais popular como A bela Infanta, Nau Catrineta e Barca Bela, entre outros, que qualquer pessoa minimamente escolarizada sabe trautear, mas que a maioria desconhece que são da autoria de Almeida Garrett”, constata.

Porém, agora que as Viagens na Minha Terra já não constam no programa de Português, o afastamento das gerações mais jovens em relação a Garrett ameaça agravar-se.

Olívia Figueiredo, responsável pela Secção de Linguística do Departamento de Estudos Portugueses e Românicos da FLUP e docente de Metodologia do Ensino Português, reconhece o valor da obra de Garrett, mas encara este novo programa com optimismo.
“Em termos contemporâneos é importante estudar outras obras mais actuais – e sobretudo mais interessantes do ponto de vista dos alunos -, como Lobo Antunes e Saramago, que estimulem uma maior adesão dos jovens à leitura”, defende.

Pelo contrário, Rosa Cruz acredita que “a estrutura curricular do ensino do Português e da Literatura Portuguesa tem agora um carácter mais disperso e menos contextualizado epocalmente”. O estudo de Frei Luís de Sousa e de alguma poesia garrettiana não garantem, na opinião da professora, “um conhecimento cimentado do autor”. E confessa com pesar não perceber como é que “um dos pilares do romantismo nacional é colocado numa posição acessória na formação literária dos alunos portugueses”.

Andreia Fonseca