Já não há ilusões entre os professores universitários. Se o processo de Bolonha seguir o actual rumo, o desfecho estará longe do inicialmente previsto.

A maior parte dos defensores do Processo acredita que Bolonha seria a resposta adequada da Europa ao competitivo sistema educativo norte-americano. A aplicação do novo modelo 3+2 (o mais comum entre os defendidos pelos estados que aderiram ao processo) era a base perfeita para apostar na especialização e na investigação. No entanto, a verdade é que Bolonha pode vir a revelar-se mais uma oportunidade perdida para os europeus.

Na ânsia de resolver os seus problemas económicos, os governos europeus estão a aproveitar a aplicação das ideias de Bolonha para poupar milhões de euros com o sistema educativo. Para isso, estão a defender que os dois últimos anos, cuja designação deve ser a de mestrado, sejam suportados pelos próprios estudantes. No final, isso poderia significar menos custos para o Estado, mas também acabaria inevitavelmente por afastar os estudantes da vertente mais especifica. E isso, para Jorge Morais, professor na Universidade Aberta, é simplesmente uma contradição com a ideia originalmente defendida na Declaração de Sorbonne, a base do paradigma de Bolonha.

Entre as ideias centrais de Bolonha, estavam conceitos como a mobilidade, a especialização, a atractividade em relação ao modelo norte-americano e a qualidade. Hoje, são a formação profissional e a empregabilidade as ideias que se tornaram na maior preocupação dos gestores do processo. Conceitos que, na opinião de vários professores universitários, como Jorge Morais, Luís Santos ou Rui Namorado Rosa, estão a afastar o navio do rumo inicialmente traçado. Apesar de todos terem a consciência de que é ainda possível voltar atrás, o Processo de Bolonha pode mesmo acabar por se tornar em mais um naufrágio do ensino universitário.

Miguel Lourenço Pereira