O Coliseu do Porto comemora hoje, sexta-feira, 10 anos de luta a favor da sala de espectáculos. Foi precisamente há uma década que uma batalha em nome da preservação da maior sala de espectáculos da cidade Invicta fez nascer a Associação dos Amigos do Coliseu (AACP).

Tudo começou em 1995. A Empresa Artística SA, proprietária do Coliseu, apresentou na Câmara Municipal do Porto um requerimento a solicitar que esta se certificasse de “que não haveria impedimento em alargar a utilização do dito prédio para conferências, festas, palestras, sermões, cultos religiosos e actividades de acção social”. Foi o início da polémica.

A notícia da possibilidade do Coliseu passar para as mãos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) começou a espalhar-se. Os portuenses reagiram de imediato e bloquearam a Rua Passos Manuel. Aos populares, que gritavam “O Coliseu é nosso”, juntaram-se intelectuais, artistas e políticos.

Símbolos da cidade também se manifestam

José António Barros, presidente da AACP, lembra os acontecimentos com um certo orgulho. Para o líder da associação, a massa de população que cobriu a baixa da cidade foi o reflexo da importância que o Coliseu tem no contexto da cidade do Porto.

Pedro Abrunhosa foi uma das figuras da cultura do Porto que esteve presente. “Quando soube que o Coliseu estava vendido desloquei-me para lá, levei umas algemas no bolso e disse que não saía dali enquanto a venda não fosse anulada”, recorda. Uma acção simbólica que foi seguida por muitos populares que levaram cordas, algemas, ligas de metal.

Para o autor de “Momento”, “todos os portuenses estão de alguma forma presos à sala”. Foi esta ligação que tornou o dia 4 de Agosto, dia das manifestações, um dia marcante da história do “palco da cidade do Porto”. Abrunhosa faz ainda questão de sublinhar que nada teria sido conseguido sem a intervenção favorável do então presidente da Câmara, Fernando Gomes, que “teve a sensibilidade necessária para agir face à situação”

Segundo Fernando Gomes o que levou a população e os artistas da cidade a insurgirem-se foi o facto de estarem “fazer valer o dinheiro em prol do interesse da cidade”. Sensibilizado com a força da manifestação e convicto de que “uma sala como o Coliseu não podia, de modo algum, ser dispensada”, Gomes convocou uma reunião entre a Câmara e a Aliança/UAP. Deste encontro nasceu a Coliseu SA. Mas a luta continuava. Em Setembro, realiza-se o espectáculo “Todos pelo Coliseu” e é firmado um contrato entre a Câmara, a Aliança/UAP, a Secretaria de Estado da Cultura e a Junta Metropolitana do Porto com o objectivo de constituir uma associação destinada a gerir o Coliseu -a AACP.

Uma década depois, a festa

Hoje, o Coliseu do Porto convida todos a comemorarem a vitória conseguida há 10 anos atrás. Na primeira parte, a festa conta com a presença da Orquestra Nacional do Porto, o Círculo Portuense de Ópera e da Orquestra do Salão Jardim Passos Manuel. Na segunda parte actuam A Musa ao Espelho, os Trabalhadores do Comércio, recuperados para a ocasião, osGNR e Pedro Abrunhosa.

Andreia Barbosa