Esta é uma das alterações mais relevantes introduzidas no Livro de Estilo do “Público”, que ontem era vendido conjuntamente com o jornal. A possibilidade de editores e director do jornal pedirem aos jornalistas que revelem as fontes quando são citadas como anónimas está agora consagrada, mas apenas em situações excepcionais.

“Quando há uma manipulação deliberada, e quando isso tiver consequências de natureza legal, o jornalista pode defender-se dizendo que houve uma fonte que usou má fé”, refere o director adjunto do “Público”, Manuel Carvalho que acrescenta que “as fontes institucionais não podem pensar que podem, sem qualquer consequência, enganar deliberadamente os jornalistas.”

De facto, este princípio está enunciado no Código Deontológico dos Jornalistas . “O jornalista não deve revelar, (…), as suas fontes confidenciais de informação, (…) excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas”.

Joaquim Fidalgo, ex-provedor do leitor do “Público”, não vê qualquer impedimento na revelação das fontes em casos excepcionais. “Naturalmente, isso pressupõe que o dever de sigilo passe nesse momento a obrigar, simultaneamente e solidariamente, o director do jornal. Até porque este também é jornalista.”, refere.

“Partilhar com o director do jornal o ‘segredo’ de uma fonte não é a mesma coisa que ir revelar a fonte à opinião pública ou a um tribunal. Um trabalho de jornal é um trabalho ‘de equipa’; um jornalista a trabalhar numa organização noticiosa não é um profissional liberal apenas dependente de si próprio”, afirma Joaquim Fidalgo.

No entanto, Manuel Carvalho lembra que os jornalistas “têm o direito de não revelarem as fontes, mas, como consequência, a direcção reserva-se no direito de não publicar o referido texto”.

Segunda edição desde 1997

O texto original data de 1988, embora só em 1997 tenha sido editado em livro, sendo o “Público” um dos únicos órgãos de comunicação social a publicar o seu Livro de Estilo. Desde então “muita coisa mudou no jornalismo, na sociedade, na forma como as fontes se relacionam com os media”, diz o director adjunto do Público, o que levanta questões do foro ético e deontológico.

Esta nova versão é o resultado de uma discussão interna, na qual intervieram jornalistas, direcção, provedor do leitor e conselho de redacção, mas também da consideração de propostas de alteração por parte dos leitores. Para além disso, foram também considerados os Livros de Estilo de jornais internacionais de referência como o “New York Times”, o “El País”, o “Le Monde” ou o “Washington Post” , bem como a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

“[A revisão do Livro de Estilo]envolve um compromisso de uma maior responsabilidade da nossa parte com as fontes e de transparência para com os leitores”, afirma Manuel Carvalho.

Daniel Brandão