Ser atleta deficiente mental em Portugal continua a ser uma actividade suportada pelo amor ao desporto. Os três primeiros lugares da meia maratona europeia para deficientes intelectuais, que decorreu no passado domingo, em Paris, são portugueses. Contudo, os atletas queixam-se do problema que é o mesmo de sempre: falta de apoios do Estado.

“Esta vitória foi de extrema importância para o país, para os atletas e para nós que trabalhamos com eles. Temos uma equipa bastante forte, com atletas de grande valor”, afirma o treinador de António Mariz, atleta da delegação de Coimbra da Associação Portuguesa dos Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM). “Na Europa e no resto do mundo, já conhecem e reconhem o valor dos nossos atletas”, acrescenta António Oliveira.

É mais uma medalha que se soma às muitas que estes atletas têm trazido para Portugal. Queixam-se que os apoios públicos são cada vez menores, obrigando atletas e treinadores a exercer uma profissão. O desporto é relegado para segundo plano, reduzindo a sua rentabilidade desportiva.

“Ninguém quer saber. Não ligam a estes atletas e não os apoiam”, acusa António Mariz, segundo classificado da prova europeia. “Isto é tudo política”, refere o treinador do atleta. O único apoio que ainda existe é o da Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Mental (ANDDEM). “De uma ou de outra forma, vamos fazendo os possiveis para apoiar estes atletas, nos treinos, equipamento, apoio psicológico, em tudo”, sublinha o treinador.

“O António Mariz anda nas obras”

Oliveira refere ser imprescíndivel a acção governamental, desbloqueando os apoios que cessaram e motivando o sector empresarial para o apoio aos atletas deficientes intelectuais.

Tanto os atletas como os treinadores têm outra profissão. “António Mariz anda nas obras”, afirma o seu treinador. Também António Oliveira tem que conciliar trabalho e desporto: “Estou durante o dia no meu local de emprego e ao fim do dia vou treinar. Tenho sorte: o meu patrão dispensa-me quando é para ir ao estrangeiro. Ao fim e ao cabo somos voluntários”.

Pedro Sales Dias