“Se analisarmos uma notícia tapando o nome do autor, não se consegue identificar se foi escrita por um homem ou por uma mulher”, afirma Maria João Silveirinha, professora do Instituto de Estudos Jornalísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Os condicionalismos próprios da profissão, a rotina profissional, a procura de objectividade e o recurso a fontes institucionais não permitem grande margem de manobra ao jornalista.

Susana Cavaco, professora de Deontologia Profissional do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, reitera esta afirmação: “o jornalismo implica determinadas regras, valor-notícia e estilo do órgão de comunicação social que constrangem uma certa autonomia do jornalista para fazer a notícia”. A importância é a notícia em si e não “alguma eventual perspectiva de género sobre essa informação”, explica Maria João Silveirinha.

A presença de um maior número de mulheres nas redacções não vem alterar a representação destas nos média nem lhes dar maior projecção social. “O jornalista, pela sua rotina de produção diária, tem de recorrer muito às fontes oficiais. Acontece que as fontes oficiais são maioritariamente constituídas por homens. Portanto, os homens têm sempre maior destaque na comunicação social”, afirma a investigadora. Acrescenta ainda que “não podemos esquecer que o jornalismo trabalha sobre a realidade social. Se esta está desigual e hierarquizada, a jornalista não pode alterar isso”.

Atendendo a estas condicionantes, torna-se difícil trazer mais temas femininos às páginas dos jornais, mas para Suzana Cavaco “há sempre um espaço de manobra, e é possível, nesse espaço, que exista uma certa sensibilidade diferente”. A docente refere um exemplo muito ilustrativo: “quando uma mulher vai a uma festa de casamento, a maneira de contá-lo é necessariamente diferente da de um homem. São sensibilidades diferentes, pontos de vista diferentes”.

Para Maria João Silveirinha, a procura de temas ditos mais femininos “depende sempre dos projectos editoriais. A imprensa de referência dá mais espaço às jornalistas para tratarem temas que as redacções mais masculinas não tratam”. Aponta como exemplo o jornal Público e o caso da excisão feminina, que mereceu um grande destaque.

Suzana Cavaco alerta “não se pode cair em novas desigualdades, o ideal é sempre o equilíbrio. Não se pretende que as mulheres passem a dominar, apenas que tenham uma representação igualitária”.

As jornalistas podem contribuir para trazer às redacções olhares diferentes”, esclarece Maria João Silveirinha, procurando outras fontes de informação fora dos habituais centros de decisão que são na maioria constituídos por homens”.

Milene Câmara