A democracia paritária como motor de igualdade social é um conceito teórico que ainda está longe de uma verdadeira aplicação prática. Um relatório da União Europeia divulgado no mês passado revelou que as mulheres representam apenas 35% da mão-de-obra da indústria dos média.

O comissário europeu responsável pelo emprego e igualdade de oportunidades, Vladimir Spidla, aquando da divulgação do relatório, disse que cerca de 90%dos empregos temporários no sector da comunicação social são de mulheres. Em Portugal, o número de jornalistas nas redacções aumentou 20% nas últimas duas décadas, representando, actualmente, cerca de 39% dos jornalistas com carteira profissional.

Maria João Silveirinha, professora do Instituto de Estudos Jornalísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em entrevista ao JPN, diz que embora esses dados mostrem uma evolução positiva, não significam que as mulheres “partilhem os mesmos direitos e responsabilidades dentro das empresas”. Para a investigadora, enquanto as chefias estiverem apenas entregues aos homens, haverá sempre um grande entrave à mudança da imagem feminina nas mensagens mediáticas.

Após o 25 de Abril um vasto universo profissional abriu-se ao mundo feminino. Embora o “acesso aos cursos superiores e à formação já seja muito semelhante para ambos os sexos, essa igualdade não se verifica em termos de acesso à profissão e de progressão na carreira profissional”, diz Maria João Silveirinha. “É tudo uma questão estrutural, que não diz respeito apenas ao jornalismo, apesar desta ser uma profissão tradicionalmente masculina. A sociedade está estruturada [a partir] da perspectiva masculina. Todas as condicionantes fazem com que sejam os homens a chegar aos lugares de poder”.

O que é que falta às mulheres para aceder a esses mesmos lugares? “As mulheres devem subir por mérito. Ora, mérito na linguagem masculina significa trabalhar muitas horas, trabalhar aos fins-de-semana, chegar muito tarde a casa quase todas as noites. É muito mais difícil às mulheres fazerem este tipo de esforço, porque o seu papel social ainda está muito ligado à família e ao cuidado dos filhos.”

Milene Câmara