“Zodíaco Lusitano” é o nome do primeiro jornal do Porto. Curiosamente, trata-se de uma publicação sobre medicina. Saúde e jornalismo relacionam-se desde os primórdios da imprensa. A explicação foi dada ontem, quinta-feira, por Helena Lima, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e especialista em História do Jornalismo, no primeiro dia “II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos / IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos”, na Universidade Fernando Pessoa. (UFP).

Do passado para o presente, Rafael Reis, assistiu ao nascimento do primeiro jornal médico português na década de 70 do século XX, “Notícias Médicas”. Hoje é editor do jornal e fala sobre a necessidade do jornalismo médico como um “fórum de debate das políticas de saúde numa atitude de sobrevivência”. Rafael Reis acredita que um dos maiores perigos da imprensa médica é a dependência da publicidade farmacêutica. “99% dos anunciantes são também farmacêuticos”, indicou.

José Antunes, director do jornal “Tempo Medicina”, manifestou a mesma opinião. “Uma das limitações é a indústria farmacêutica, muito arguta e competitiva. Temos de estar muito atentos”, afirmou o jornalista, licenciado em medicina. José Antunes acrescentou que a sua equipa redactorial cobre os acontecimentos numa perspectiva mais pormenorizada do que a da imprensa generalista, salientando que não é preciso ser médico para se escrever sobre a matéria.

Nesse sentido, Inês Aroso, licenciada em Ciências da Comunicação, relatou a sua experiência como jornalista no “Tempo Medicina”. Inês Aroso considera que o espaço para os jornalistas situa-se na intermediação entre os médicos. “Os maiores desafios são a linguagem técnica e os preconceitos de outros jornalistas que me diziam que eu não era jornalista, que fazia ‘marketing farmacêutico’”, lembrou.

A cobertura jornalística de temas da saúde foi alvo de críticas por parte do público. Exemplos de pânico lançado por notícias e de erros técnicos foram enumerados pela audiência. No entanto, Helena Lima, justificou as eventuais falhas jornalísticas com o “ritmo frenético dos ‘deadlines’” e com a possível traição por parte das fontes.

“Traduzir” a linguagem médica

Noutros painéis, a relação entre o jornalismo e a medicina foi amplamente discutido. “Os mass media são uma importante força de pressão para chamar a atenção sobre os cuidados de saúde”, considerou Pedro Alcântara Silva do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Miguel Leão, representante da Ordem dos Médicos, criticou a ausência de especialização dos jornalistas e acusou os médicos de falta de comunicação com os jornalistas. “Os médicos habituaram-se a lidar mal com a mediatização e usam uma linguagem muito tecnocrática e estereotipada”, disse.

Xosé Ramón Pousa da Universidade de Santiago de Compostela vê a medicina e do jornalismo como um “casal indispensável”. “É preciso jornalistas que traduzam a linguagem médica na linguagem do homem de rua”, concluiu.

Carina Branco