O neurocientista Alexandre Castro Caldas lidera a primeira equipa mundial que conseguiu provar existirem diferenças físicas significativas entre o cérebro de letrados e analfabetos. Investigador principal do programa Neurociências do Instituto de Biologia Molecular (IBMC), o cientista explica as profundas implicações desta descoberta, sobretudo no que se refere à compreensão dos diferentes ritmos e processos de aprendizagem de crianças e adultos.

“A aprendizagem estará dependente do desenvolvimento de capacidades e quanto mais cedo essas capacidades forem implementadas, tanto melhor”, diz. O neurologista, que estuda o cérebro humano desde a década de 70, constata que os que não aprenderam a ler em tenra idade, têm dificuldades a nível verbal na idade adulta que se “reflectem na função cerebral e na própria anatomia do cérebro”. O impacto deste “handicap” na capacidade de aprender a ler na idade adulta tem orientado as investigações do cientista.

Castro Caldas esteve presente numa tertúlia no âmbito da Semana Internacional do Cérebro na FNAC do NorteShopping. “As pessoas analfabetas utilizam estratégias cerebrais diferentes e estimulam diferentes áreas do cérebro para resolver situações concretas semelhantes”, afirma. De facto, como explica o neurologista, “as modernas técnicas de imagiologia demostraram que os não escolarizados utilizavam, em cada experiência, o cérebro de forma diferente daqueles que tiveram oportunidade de aprender em idade escolar”.

Castro Caldas dedicou também parte do seu estudo aos que aprendem a ler e a escrever tardiamente. Depois de observar 12 mulheres que aprenderam a ler e escrever na idade adulta, o professor obteve resultados inéditos. “O cérebro de uma pessoa que aprendeu a ler tardiamente reage de uma forma mais lenta na tradução da imagem das letras quando comparada com alguém que recebeu a escolaridade na infância,” explica o neurologista, que desvenda mais um pouco da área do cérebro analfabeto.

Para Castro Caldas, torna-se fundamental “tentar perceber de que maneira o cérebro se adapta à aprendizagem escolar”, de modo a apoiar a elaboração de programas de ensino adequados à aprendizagem em idade adulta. Se os recém letrados usam o cérebro de outra maneira para aprender a ler e escrever, não fará sentido que as escolas usem os mesmos métodos de ensino que são adoptados para as crianças e jovens.

Agostinha Garcês de Almeida