Considera que os estudantes universitários de certas áreas são futuros desempregados?

A questão que hoje se coloca é a dificuldade de obtenção de emprego em algumas áreas. Não penso que as universidades estejam a criar desempregados. Eu acho que as universidades estão a formar pessoas mais cultas, mais conscientes das suas responsabilidades e mais capazes. Tudo o que a universidade possa fazer nesse sentido diminuirá os riscos do desemprego. As taxas de desemprego são sempre mais elevadas em quem tem menor nível de formação. E, portanto, a minha tese é esta: quanto mais pessoas formadas tivermos, melhor. Aquilo que é preciso é que o mercado entenda a importância de ter pessoas mais qualificadas, mais competentes do ponto de vista tecnológico, científico, académico, profissional e do ponto de vista individual. Ter pessoas que sejam mais capazes de trabalhar em grupo, de serem líderes, de serem disciplinadas e rigorosas.

Como é que vê a formação profissional no contexto actual?

Acho que é uma forma muito adequada de podermos cumprir um grande objectivo que é o de manter na escola todos os nossos jovens até aos 16/17 anos, seja através de uma formação mais académica, para o prosseguimento de estudos, ou através de uma formação profissional que permita uma mais rápida inserção no mercado de trabalho.

Afirmou na sua conferência que existe um défice de projectos a longo prazo por parte das universidades. Como é possível existirem projectos de longa duração se os orçamentos disponíveis mudam todos os anos?

Não. Os orçamentos não mudam todos os anos. O problema da estratégia não é apenas o orçamento, não devemos pensar apenas em termos númericos do deve e do haver, das receitas e das despesas. É preciso que as universidades, e muitas já o fazem, tenham uma identificação e uma definição de objectivos da qual decorre a identificação dos meios e de todos os recursos necessários para atingir esses objectivos. Alguns serão possíveis de atingir e outros serão mais difíceis e, portanto, há aqui uma solução de compromisso entre o que são objectivos definidos a médio e a longo prazo. Penso que muitas universidades já o têm feito. Agora, é necessário que haja a capacidade para depois levar à prática essa estratégia e a mobilização desses recursos para tentar cumprir esses objectivos. É preciso que a escola, a universidade, o instituto se organize em termos de governo e de administração no sentido de ganhar sentido estratégico. Costuma-se dizer que a estratégia é a estrutura e a estrutura traduz a própria estratégia e, portanto, não é indiferente que uma escola tenha uma estrutura ou órgãos de governo que são estabelecidos de uma determinada forma ou de outra. Dessa forma, dessa organização depende muito a estratégia que depois irá seguir.

Que expectativas tem para com o novo governo e o que é que espera em matéria de educação?

Eu não gostaria muito de me pronunciar sobre isso. Acho que os governos, no início, são sempre recebidos com grande expectativa. Em relação a este tenho uma expectativa muito positiva na área da educação e da formação. Sei que vai ser atribuída uma grande importância e uma prioridade acrescida a essas áreas, formação pessoal e profissional, tecnologia, ciência, avanço do conhecimento… Acho que temos que ter uma grande esperança nos nossos próximos governantes e eu tenho.

Se pudesse fazer uma avaliação ao ensino superior português, que nota é que atribuía?

Não costumo dar notas a instituições.

Milene Câmara