“Os delírios de interpretação auto-referenciais, com a influência dos conteúdos transmitidos pelos meios de comunicação social em pessoas que padecem de problemas psicológicos e suas possíveis utilizações num contexto de guerra psicológica” serviram de tema para a reportagem apresentada por Jorge Marinho, docente no curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e quatro alunos no encerramento do II Congresso Luso-Brasileiro e IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos, realizado pela Universidade Fernando Pessoa, no Porto.

Para Jorge Marinho, esta temática representa “um nicho de investigação que deve continuar a ser explorado”. O docente da Universidade do Porto reforçou o “carácter interdisciplinar das ciências da comunicação que se relacionam com vários domínios científicos.”

Hugo Correia, um dos alunos que participaram no projecto de investigação, explica ainda que o estudo procurou encontrar “‘case studies’ de pessoas com delírios de interpretação influenciadas pelos meios de comunicação social e que explicitassem atitudes delirantes como, por exemplo, ao verem televisão ou ao lerem um jornal sentissem que esse jornal se dirigia especialmente a si”.

“Esse impacto das mensagens dos meios de comunicação social sobre pessoas que sofram destas patologias pode vir a ser utilizado num contexto de guerra psicológica, ou seja, na utilização dos meios de comunicação social para manipular os receptores dessas mesmas mensagens”, explicou Hugo Correia.

“Eufonia ou cacofonia?”

A tarde do segundo e último dia de congressos foi também dedicada à rádio e à televisão. “Uma informação mal lida nestes dois meios é feita em cacos”, começou por dizer Rui de Melo, professor da Universidade Fernando Pessoa, na sua intervenção sobre “A eufonia ou a harmonia das vozes na rádio e na televisão”.

“Qualquer comunicador é um formador, mas para o ser tem que comunicar bem, tem que saber utilizar a voz , porque é pela voz que o ouvinte descobre o não dito, o sentido profundo da mensagem”, acrescentou Rui de Melo. Diz este profissional da rádio que a agradabilidade da voz – a eufonia – se opõe ao que é feio e desagradável, o “cacos”, a “cacofonia”.

Rogério Eduardo Bazi, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, interveio para relacionar os aspectos identitários regionais com a televisão brasileira, “Sotaques diferentes nas rádios e televisões são uma questão de aproximação das populações”.

Já António Francisco Ribeiro de Freita, da Universidade Federal de Alagoas, partilhou o exemplo de uma rádio criada pelo próprio como forma de prestar serviços com vista a ajudar as populações da favela da cidade de Lona, no Brasil. “Uma rádio feita para a comunidade e com a comunidade ao serviço da saúde dos populares e que se distingue dos ‘media’ comercial”, explicou.

O mundo da rádio foi também abordado por Hélia Filipe Saraiva, da Escola Superior de Artes e Design (ESAD). “A distância física dá lugar ao encontro no espaço que é a rádio”, disse. E concluiu ainda que “a voz pode valer mais do que a imagem; nem sempre uma imagem vale mais do que mil palavras.”.

Letícia Amorim