População envelhecida, socalcos e a forma serpenteada do rio Douro são algumas das características que definem uma região que é já património da Humanidade. É na zona demarcada do Douro que se continua a produzir o chamado Vinho do Porto. As vindimas acontecem entre finais de Setembro e inícios de Outubro e continuam a ser feitas sem recorrer à mecanização, devido ao declive acidentado do rio.

No final de Setembro a população do Douro forma as chamadas rogas para as vindimas. As rogas são conjuntos de trabalhadores que apanham as castas ou uvas e que animam a faina das vindimas com os seus cantares. Depois de apanhadas são levadas para lagares em pedra para serem vinificadas. Segue-se a fase do envelhecimento do vinho. Os balseiros e os cascos constituem o depósito. Os primeiros podem ter de 25 a 50 mil litros. Os segundos guardam quantidades menores de vinho.

Virgínia Branco é funcionária de umas das caves de Vinho do Porto. Esta licenciada em Línguas e Literaturas Modernas guia os visitantes pelas caves. Explica que o vinho começa por envelhecer nos balseiros, onde permanece de 5 a 6 anos. “Só o vinho com potencial de envelhecimento é que é transferido para os cascos, onde envelhece mais rapidamente, devido ao maior contacto com a madeira”, afirma Virgínia Branco.

Lágrimas douradas

Virgínia Branco explica o termo “lágrima” usado no contexto deste vinho: “ao ser vertido para o copo, como é um vinho muito doce, verte aquilo que parecem ser inúmeras lágrimas que correm pelo copo. Por isso é que se diz lágrima”. Os vinhos lágrima são uma das categorias do vinho do Porto. Existem em todas as marcas, independentemente do nome que têm. Possuem uma tonalidade dourada.

O vintage é outra das categorias de vinho do Porto. Este vinho contradiz o ditado popular que assegura que o vinho é tanto melhor, quanto mais velho for. Na verdade, só o vintage é que continua a envelhecer depois de engarrafado. Todos os outros envelhecem apenas enquanto estão nos tonéis. O vintage é fruto “de um ano formidável, em que o Douro proporcionou condições excepcionais”, explica Branco. É o único que continua a ser pisado em lagares e é por isso produzido de uma forma mais tradicional. É considerado o rei do vinho do Porto.

Caves de vinho do Porto em Gaia

Apesar de se chamar vinho do Porto, as caves são do outro lado do rio, em Vila Nova de Gaia. A justificação é simples. O vinho do Porto é produzido há já muitos anos, mas a ideia do entreposto é mais recente, datando dos anos 20 do século XX. Foram construídas em Gaia porque a zona da ribeira do Porto já estava edificada há muitos anos. Em Vila Nova de Gaia havia espaço. Além disso, também estava próxima do rio, fundamental para as exportações e para o processo de envelhecimento do vinho, devido à humidade.

Vinho do Porto nas mesas pascais

Diz a história da Igreja que Jesus Cristo na última ceia brindou com os que o seguiam com vinho tinto. Este tornou-se por isso tradição na celebração da Páscoa, a par com o pão-de-ló e com as celebrações eucarísticas. Virgínia Branco confirma que a Páscoa, juntamente com o Natal e com o período de Verão, é a época em que mais se vende vinho do Porto.

O vinho do Porto é um dos vinhos mais apreciados em todo o mundo. Dinamarca, França, Inglaterra e Espanha são os maiores consumidores de um vinho que continua a ser produzido de forma tradicional. As caves continuam a não recorrer às técnicas de climatização. Estão estruturadas em granito e têm o tecto em madeira para preservar a humidade. O tecto é um factor indicador do envelhecimento do vinho. Quando assume uma tonalidade esverdeada num determinado local significa que naquela parte da cave o vinho está a envelhecer.

Andreia Ferreira