Doces caseiros e outras delícias da doçaria tradicional. O recuar ao tempo dos fornos a lenha, numa apologia do que é tradicional é bom.

Pão-de-ló, amêndoas, doces de Resende, suspiros, compotas caseiras…e muitos mais doces tradicionais. Daqueles feitos à moda antiga, mexidos nos moinhos à manivela e cozidos nos fornos alimentados a carqueja, tal como faziam os nossos avós. Tudo numa lojinha que quase parece um museu, onde o tempo parece ter esquecido de passar.

Há mais de século que a Casa Margaridense faz as delícias dos amantes da doçaria portuguesa tradicional. Chegam de todo o lado do país e do mundo e durante todo o ano. “Temos clientela todo o ano, embora o Natal e a Páscoa sejam as épocas altas da nossa casa”, confirma a dona Leonor, funcionária da casa.

O pão-de-ló é o mais procurado de todas as delícias. Nesta altura do ano, o pão-de-ló acompanhado por um cálice de vinho do Porto, fazem as delícias de muitos. Mas são inúmeras as doces tentações que aqui podemos encontrar: a marmelada caseira, as geleias e compotas melosas, as tradicionais cavacas, os requintados suspiros, tudo feito como deve ser: “ingredientes caseiros sempre, e muito bem misturados”, explica a dona Leonor. O resultado são doces maravilhas, de aspecto celeste, que até nos fazem esquecer os preços…

E porque a Páscoa está aí à porta, o JPN quis conhecer os segredos desta casa. Um recuar à época das balanças decimais, dos fornos a lenha e dos moinhos à manivela. Aqui, não lugar para embalagens de plástico: é tudo guardado em tigelas de barro em armários antigos, dignos de um museu. Mas o sabor, esse, parece intemporal. A comprovar, estão os inúmeros prémios de qualidade, exibidos com orgulho pela dona Leonor, “prémios recebidos ao longo do tempo, desde o século XIX, até aos nossos dias”.

Cada canto conta uma história antiga, cada tigela, com mais de 100 anos certamente, guarda o sabor de sempre. A tradição é um dos segredos do sucesso, mas o verdadeiro mistério, esse, está guardado a chave de ouro: dentro de um cofre secular, de madeira escura e pintado à mão, estão os verdadeiros segredos da Margaridense. “São os pesos para os ingredientes”, confessa Leonor. “Os nossos pesos são pedras, enroladas em alguns arames, para que ninguém saiba ao certo as quantidades que usamos em cada ingrediente. Cada pedra tem um peso corresponde a cada um dos ingredientes usados”, conta. Aqui, até as gemas e as claras se pesam, e nenhuma das componentes é esquecida.

Nem a dona Leonor, empregada há tanto tempo nesta casa, tem a chave deste cofre. “Só a família proprietária é que tem acesso, só eles têm a chave deste cofre”, confidencia a simpática senhora. A família proprietária, oriunda de Margarido (terra que deu nome à casa), tem uma chave única, que passou de geração em geração, desde 1875 até aos nossos dias.

A Casa Margaridense deixou há muito de ser apenas um ponto de comércio. Mesmo se não quiser comprar nada, esta casa é um local obrigatório no roteiro turístico da cidade Invicta. A lojinha, que quase parece um museu, é uma referência histórica da doçaria tradicional portuguesa.

Agostinha Garcês de Almeida